Vietnã, a viagem com jogo de xadrez
Recebi um convite para viajar com um grupo de amigos para o sudeste asiático. Depois de pensar um pouco, e fazer algumas contas, resolvi aceitar o valoroso convite. Então, passei a receber por mensagem os planos da viagem, que incluía Nepal, Índia e Vietnã. Esta viagem seria de 35 dias a contar da partida em Fortaleza CE, contudo resolvemos que não participaríamos do total da excursão com nossos amigos, pois por problemas particulares decidimos viajar por apenas 15 dias, assim teríamos um dia e meio em Nova Deli, Índia, e depois seguiríamos para Hanói, Vietnã, e retornaríamos para Nova Deli para encontrar o grupo maior e voltar para o Brasil.
Vamos resumir nossa intensa e bela viagem. No início de fevereiro de 2024, nossos amigos viajaram como previsto, e depois nos encontraríamos em Nova Deli, Índia. Então, pelo nosso roteiro de viagem: saímos de Fortaleza, com uma conexão em Paris, e depois seguimos viagem para Nova Deli, chegamos de madrugada e fomos para o Hotel. Visitamos alguns templos e algumas lojas. Cidade muito agitada, transito complicado. Muita agitação e muita gente nas ruas. No outro dia seguimos para Hanói, passeio e visitas a templos, fomos ao teatro, lojas, massagens por todo canto. Vivenciamos a passagem do ano com muita festa, as famílias nas ruas, tudo enfeitado. Chegou o ano do Dragão. Todo povo adora um Dragão, símbolo de bondade e prosperidade. De Hanói pegamos um voo para a cidade de Dan Nan, visitamos bairros antigos, museus, templos e fizemos um cruzeiro. Seguimos de carro para a cidade Huê, depois pegamos um voo para Ho Shi Min (antiga Saygon), onde fomos a vilarejos rurais, visitamos lojas, fábricas, museus, igreja católica. Do hotel no centro de Ho Shi Min fomos a um Resort próximo do rio Mekong, com seus barcos, feiras flutuantes e restaurantes magníficos em sua margem. Finalmente voltamos à Ho Shi Min e começamos nossa viagem de volta, via Nova Deli e Paris, até Fortaleza.
Contudo, tive nesta viagem meu momento enxadrista. Foi num curto cruzeiro, que saiu da Baía de Tuan Chau de Halong. Tínhamos passado uma manhã muito agradável a bordo do Orchid, como citava o folheto “navegando à moda de orquídea deslizando sobre as águas da baía”. Uma tarde fevereiro, como previsto depois de um dia ensolarado o tempo mudou. Fui ao convés, soprava um vento frio, que assustava os passageiros, contudo eu estava com meu casaco, muito confortável. O bar era bem surtido com muitas bebidas a mostra e tinha um cardápio bem atrativo. Vi logo, num canto do balcão estavam os jogos de tabuleiro, caso alguém quisesse, bastava pedir e levar para mesa e se divertir. Então, o garçom me informou que eles jogavam xadrez apostado nas horas vagas. Respondi que apostado eu não jogava. Isso numa comunicação em inglês, um pouco fraco, ajudado por uma mímica, a gente vai longe; o dele também não era bom, mas nos entendemos. Desta forma, deu certinho, a comunicação fluiu bem.
Então, como não tinha ninguém no momento. Perguntei se ele não queria jogar uma partidinha. Ele olhou em volta e trouxe o relógio; sorteei as peças. Fiquei com as brancas. Cinco minutos para cada jogador. E o jogo começo rapidamente. Enquanto o jogo rolava, eu me apresentei e ele também. Fizemos outros comentários. Ele ganhou um peão, e também estava bem melhor no tempo. Fomos para um final do cavalo branco contra bispo e um peão. E numa bobeira consegui trocar o cavalo pelo peão e o jogo ficou empatado. Pois, o rei e um bispo não conseguem ganhar o jogo. Escapei. Olhamos em volta e ainda não tinha ninguém. Partimos para um segundo jogo. Eita! Perdi um peão bem começo, e um cavalo estava prestes a cair. Quando chegou um amigo dele, que pediu licença e ficou conversando em vietnamita. Falavam rápido. Havia um casal sentado numa mesa distante e o amigo foi atender. Entretanto, antes de sair ele disse que eu tinha ganho o jogo. Quando voltou para recolher o tabuleiro e o relógio, disse a ele: “vamos firmar outro empate”. Ele saiu e o amigo Phillipe, do meu grupo de viagem, chegou e pedimos água mineral com gás. Depois fui ao balcão pegar as águas, e o companheiro de xadrez me informou que o seu amigo tinha estava pensando que a gente estava jogando apostado, e que também ele estava no horário de trabalho. Entre risos, ele disse que tudo ficou bem. Recusou a gorjeta, e o empate estava aceito, assim apertamos as mãos. Coisas do xadrez, até parecia que tinha havido um match formal.
Ao voltar para mesa notei que o sol estava acabando de se esconder atrás de uma ilha, e a noite tinha chegado. As luzes do barco brilhavam, quando dei conta as mulheres chegaram e conversamos um pouco. Depois de se ambientarem, resolveram levar as cadeiras para ficarem mais próximas da mesa instalada para instrução, pois todos estavam muito interessados na aula de culinária. Durante a aula de comidas típicas locais, o amigo Phillipe foi um dos candidatos chamados até a mesa, para praticar e fazer na prática. Agora o ambiente estava com bastante gente. Enquanto isso, o funcionário veio à mesa e me pediu desculpas, muito cortês com seu jeito bem oriental, tinha prevenido ao colega que se o chefe chegasse eles poderiam ter dificuldades. Respondi que por mim estava tudo certo, não havia problema algum. Aproveitei e pedi uma cerveja, enquanto acompanhava o pessoal aprendendo a preparar um tipo de rolinho de primavera vietnamita. Depois tivemos uma degustação, por sinal muito divertida e cheia de risos.
Depois fiquei pensando como tive muita sorte em jogar xadrez neste cruzeiro, foram dois empates, visto que poderia ter perdido a segunda partida, graças a intervenção do outro garçom fui salvo. Visto que o adversário era alguém que estava frequentemente praticando com os amigos o xadrez rápido. Na verdade eu prefiro o jogo clássico. E praticar uma atividade diariamente, principalmente, no xadrez, isso faz muita diferença. Acho que vale para outras atividades da vida. Que legal!
Resumindo, foi uma dessas viagens que você não esquece. Lindas paisagens, história de superação, muito sofrimento, submetido a guerras milenares, e a guerra por independência e união, marcada por muita atrocidade. Para exemplificar, na guerra contra os Estados Unidos, este país despejou 14.300.000 toneladas de bombas (para ter uma ideia, “apenas” 5.000.000 toneladas de bombas foram usadas na 2a Guerra Mundial). Nos museus pelo país têm histórias de arrepiar. Pensei, como é bom ver este país prospero, ainda bem que ele está nesta metade do globo terrestre, caso tivesse do outro lado, estaria minguando com as sanções impostas pelos Estados Unidos e aliados. Ao contrário temos um país socialista, vivendo plenamente, com seu mercado formal e aberto ao capitalismo. Muitos estrangeiros por onde andamos, um país barato, povo pacífico, inclusive o nome “Vietnã” significa “gente tranquila do sul”, o sufixo "nam" significa “do sul”.
Só complementando, cito uma conversa interessante, com nosso guia para reflexão. Gente que nunca saiu de sua terra e fala português fluente. Quando questionei sobre política, nosso guia respondeu, que: “votamos apenas em pessoas de nossa localidade que nos representaram”. Quantos partidos temos neste país? Ele disse: “apenas um partido a menos que a maior democracia do mundo”. E completou: “o nosso sistema eleitora é indireto igual ao deles.” Palavras verdadeiras, ouvi calado.
Não poderia concluir este relato sem enaltecer uma das qualidades do povo vietnamita. Como o significado do nome, povo tranquilo. Inimaginável no Brasil um trânsito com uma velocidade média de 30 Km/h, seguir numa estrada à 60, numa Van que não chegou aos 80 Km/h. É muita calma. Nas cidades com muitos carros e motos, contrastando com pouca sinalização (placas). Atravessar uma rua no Vietnã, para os ocidentais no começo é muito difícil. Filas de carro passando, três faixas. Orientaram, o seguinte: quando aparecer um espaço ponha o pé e vai em velocidade constante até o outro lado, sem pressa; os carros e motos desviam ou reduzem a velocidade, passam perto. E você finalmente chegou do outro lado. Depois, vamos nos acostumando e entendendo a filosofia, “do viver e deixar os outros viverem”. Nas imensas filas, se alguém para, o de trás passa a frente, a fila quilométrica não deve parar. É muito diferente do ocidente. Quando chegamos no aeroporto, sentimos uma tranquilidade, passamos a respirar calmamente. Sem estresse.
Referência
a) Artigo sobre o Vietnã: https://www.primus.com.br/content/content.aspx?id=10579
b) Agência de Hanói: Horizon Vietnam Travel. Website: http://horizon-vietnamviagem.com;
Pode fazer contato com a Sra Hamy em português pelo
e-mail: hamy@horizon-vietnamviagem.com
Autor: Paulo Sérgio e Silva
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