Xadrez e vida – “Ainda estou aqui” o filme

Que noite de felicidade! Um momento de êxtase para o cinema nacional. Foi como si a gente acordasse e ficasse sabendo que o Brasil foi Campeão Mundial de Xadrez, ou menos difícil, que foi hexa na Copa do Mundo de Futebol. Coisa assim incrível! Em pleno domingo de carnaval, num canal da televisão passando o desfile das Escolas de Samba, e no outro a gente esperando as premiações do Oscar passarem. E valeu a pena esperar. Um feito magnífico, alcançado pelo filme brasileiro de Walter Sales, que narra uma história que se desenrolou num período sombrio de nossa história, que chegou e ganhou a estatueta, isso mesmo, ganhou o Oscar.


A tentativa de apagar os fatos ainda rondam as mentes de alguns, mas a verdade tem que prevalecer. É um filme que emociona por ser tão verdadeiro, tão bem-feito que nos faz viajar através do figurino, da arquitetura das casas, das ruas, das palavras dos personagens, e dos acontecimentos apresentados paulatinamente durante o transcorrer das imagens. Este filme tão bem-sucedido em expressar uma época em que as paredes tinham ouvidos. Espelha um passado com tanta realidade que chega emocionar os corações não só dos que viveram aqueles dias, mas atinge a todos. Até pessoas estrangeiras desconhecedoras dos detalhes de nossa história e cultura, também, se emocionaram com o enredo mostrado nesta obra de arte do cinema brasileiro.

É retornar a uma realidade que não deve ser esquecida, conhecer a história nos faz questionar os atos do presente com um olhar crítico. E entender porque vivemos estes momentos em que o ódio vem aumentando. Para muitos brasileiros até parece que os fatos de 50 anos atrás foram esquecidos. Hoje me pergunto: “onde eles estavam?”.

Rubens Paiva foi levado de casa e assassinado, e Dona Eunice Paiva de forma corajosa lutou pelo registro de óbito do marido desaparecido naqueles tempos obscuros durante a ditadura, e vários anos de labuta foram necessários para que o estado reconhecesse ser erro. Tempos duros aqueles, só o fato de alguém conhecer uma autoridade relacionada com o governo vigente, tinha o poder de levantar uma palavra denunciante contra o próximo. “Ele disse isso”, ou, “ele é contra aquilo”, ou, “ela é uma comuna”; e como consequência, o denunciado era alcunhado de “inimigo interno”. Passava a ser averiguado e vigiado, dependendo do interesse do sistema. Este cidadão era subtraído de sua família, sem julgamento, e levado para algum lugar. Há uns 20 anos, um amigo reformado do exército brasileiro me narrou histórias como esta, na época da ditadura era sargento, e ressaltava que ele apenas cumpria ordens. Entretanto, os fatos narrados sem comprovação alguma casam com eventos que conheci em minha juventude. Minha passagem pelos Grêmios Escolares e Movimento Estudantil, serviram-me para entender um pouco do que acontecia ao redor.

Voltando ao filme brasileiro “Ainda estou aqui”, baseado no livro de mesmo nome escrito por Marcelo Paiva. Quero registrar, o quanto essa premiação é importante, não só para o cinema brasileiro, mas para nossa história. Este é um feito extraordinário de nossos atores, diretores e todos que contribuíram para geração deste documento cinematográfico, sobre um tempo que muitos querem apagar. Se querem esconder, concluímos que algo de feio, muito feio, foi feito as escondidas da sociedade.

No domingo, dia da premiação, ainda durante o dia, vi que tinha uma transmissão de um Torneio de Xadrez, então fiz um comentário dando meu “boa tarde”; e para descontrair escrevi o seguinte: “hoje é um grande dia. Ainda estou aqui.” O apresentador leu diversos comentários durante o desenrolar dos jogos e fazia um comentário respondendo, ou, qualificando o que era dito; eram diversos assuntos tudo que vinha na cabeça dos presentes. E quando chegou no meu comentário, referente ao título do filme nacional, ele olhou por um momento citou o meu nome e leu rapidamente. E passou para o seguinte. Não comentou. Acho que não gostou; ou, de alguma forma não achou próprio. Fiquei pensando no ocorrido. Antes ele já tinha comentado alguns textos de cunho político, talvez o tema do filme fosse o problema. Ninguém do “chat” falou sobre o filme prestes a ser premiado nos Estados Unidos. Achei muito estranho. Contudo, tive que me conformar, pois o assunto principal era xadrez. Este não é um assunto político fácil, pois mexe com a emoção de muitos.

Agora não podem nos impedir de dizer, que fomos premiados no Oscar: “Melhor filme estrangeiro.” Parabéns, Walter Sales, Fernanda Torres, Marcelo Paiva e todos os outros que contribuíram para este feito de alguma forma! Parabéns Brasil!


Referência

(1) Site que sou filiado, caso queira jogar xadrez esta é uma ótima plataforma https://www.chess.com


Autor: Paulo Sérgio e Silva

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