Um lance no xadrez “En passant”
Quando estava no tatame ouvindo a
orientação do mestre “sansei” dizendo que no primeiro momento de um golpe deixe
passar, quando vem um punho cerrado, uma arma, uma investida, saia da frente. Então
você entra para finalizar. E lá no meu lugar pensando que no xadrez tem um
lance especial chamado “en passant”, muito interessante esta correlação. Desta
forma, o mestre seguia ensinando o não confronto reativo, mas ofereça o
relaxamento forte como resposta. Não fuja apenas saia da frente e domine a
situação, entre com um contra golpe e faça você a história. Dê o enredo final
ao desfecho, que este oponente se oferece para participar. Como na luta, no
xadrez o lance “en passant” é efetivado pela opção e conveniência daquele
lutador que estava numa base definida e recebe a primeira investida.
Figura 1 – A luta do
Jogo de Xadrez
“En passant” no xadrez. Expressão
francesa que quer dizer “de passagem” aplicada a um movimento especial do peão.
Logo a peça mais simples um infante do “front” da batalha do xadrez. A expressão é utilizada quando se um exerce o
privilégio especial de capturar que é permitido quando um de seus peões,
colocado na quinta fileira, é emparelhado por um dos peões adversários ao
avançar dois passos em uma coluna adjacente. A captura “en passant” é opcional,
mas, para poder ser exercida, deve sê-lo no lance imediato, ou nunca mais. Esta
última observação é fundamental, para responder primeiro pare, pense e tenha
calma com a ansiedade reativa, pois a resposta pode ser dada de outra forma,
que não seja a simples captura.
Observamos que na notação
enxadrística, registra-se o termo “en passant” pelas duas letras “e.p.” escrito
ao lado da notação do movimento executado.
Na arte marcial do “Aikido” é
muito ensinado que para aproveitar a energia de um ataque do oponente. Deixe
passar aquela primeira ação, depois se deve entrar para aplicar a técnica. Sai
da frente da investida e logo depois domine a situação e exerça seus sóbrios
comandos, para conduzir o oponente para o caminho certo. Algumas vezes na vida
pode-se aplicar este conceito, como: ao sofre uma “fechada” no trânsito, o
melhor a fazer é deixar passar, pensar e seguir o bom caminho. Porque se
exaltar? Pois, conseguimos nos livrar ilesos desta manobra inoportuna neste
louco ir e vir do trânsito. Outro exemplo é quando somos submetidos a uma
situação irritante, em que perdemos um pouco o controle emocional. Ao invés de
responder com uma ação reativa ou palavras no calor da irritação, melhor deixar
passar, esfriar e tomar uma atitude pensada. Então, na vida do tabuleiro é
muito parecido, deixa passar a primeira investida; fundamental é: parar, e
pensar, porque não teremos outra oportunidade para fazer esta captura, pois a
resposta pode ser outra bem diferente da esperada, e esta não poderá ser
revista. Uma coisa é certa, este momento não vem mais, nunca mais. Também, uma
virtude que tiramos desta situação para nossa vida: é pensar primeiro,
ponderar, estudar as vantagens e desvantagens para o próximo ato, se vale na
luta? No xadrez isto é o jogar, pensar e calcular antes de se movimentar.
Elucidamos que a nossa discussão
está em torno do momento da passagem, então o “deixar passar” ainda está dentro
de um contexto não conclusivo. Quando o oponente fez o movimento de peão, neste
momento foi criada uma chance para refletir capturar, ou não.
Esta forma de capturar “en
passant” foi estabelecida em torno do ano de 1560, quando o famoso espanhol amante
do xadrez Ruy Lopez a adotou em suas partidas. Consequentemente, foi adotada na
França, Inglaterra e Alemanha. E daí por todos os praticantes deste maravilhoso
jogo pelo mundo.
Abaixo listamos uma partida do
grande mestre José Raúl Capablanca no início do século XX, para ilustrar nossa
abordagem. Na ocasião o campeão Inglês Atkeens resolveu adotar um sistema prudente
de jogo contra o campeão mundial diante de uma defesa Caro-Kann. Entretanto, o
campeão inglês comete o seu primeiro erro na partida no movimento 22, quando
efetivou uma captura “en passant”, assunto abordado em nosso trabalho de agora.
Brancas: Atkeens – Pretas: Capablanca.
Partida jogada em 1922, Torneio de Londres.
1. e4 c6 2. d4 d5 3. e5 Bf5 4. Bd3 Bxd3 5. Dxd3
e6 6. Ce2 Db6 7. O-O Da6 8. Dd1 c5 (as pretas tomam a iniciativa) 9. c3 Cc6 10.
Cd2 cxd4 11. cxd4 Dd3! 12. Cb3 Dxd1 (a troca das Damas foi boa para as pretensões
das pretas) 13. Txd1 Cge7 14. Bd2 a5! 15. Tac1 b6 16. a4 Rd7! 17. Cc3 Ca7 18. Rf1
Cec6 19. Re2 Tc8 20. Be1 Be7 21. Cb1 f5 22. exf6 e.p.? (erro que dá jogo ao
Bispo preto, melhor Tc2) Bxf6
Figura 2 – Posição
depois 21. ... f5
23. Bc3 Cb4 24. Bd2? (melhor seria Bxb4 e
trocar as torres) Cac6! 25. Be3 Ca2! (as pretas dominam a coluna “c”) 26. Tc2 Tc7
27. Ca3 Thc8 28. Tcd2 Ca7 29. Td3 Cb4 30. T3d2 Tc6 31. Tb1 Be7 32. Ta1 Bd6 33.
h3 T6c7 34. Tad1 Ca2! 35. Ta1 Bxa3 36. Txa2 Bb4 37. Td1 Tc4 38. Tc1 Cc6!
(ameaça 39. ... Cxd4+) 39. Txc4 dxc4 40. Cd2 Bxd2! 41. Rxd2 Rd6 42. Rc3 Rd5 43.
Ta1 g6 44. f3 Tb8! 45. Ta3 b5 46. axb5 Txb5 47. Bf2 Cb4! 48. b3 cxb3 49. Rxb3 Cc6+
50. Rc3 Tb1 51. Ta4 Tc1+ 52. Rd2 Tc4 53. Ta1 a4 54. Ta2 Ca7! 55. Ta1 Cb5 56. Tb1
Rc6! 57. Rd3 Tc3+ 58. Rd2 Tb3 59. Tc1+ Rb7 60. Tc2 a3 61. Bg3 Cxd4 62. Tc7+ Rb6
63. Tc4 Rb5! 64. Tc1 Cc6 65. Ta1 Tb2+ 66. Re3 Txg2 67. Bf2 Cb4! 68.As Brancas abandonam
Figura 3 – Posição final
depois 67. ... Cb4!
Bibliografia
Panov,V.N. – CAPABLANCA;
Impresso na Espanha, Barcelona, 1986
Autor: Paulo Sérgio e Silva
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