Xadrez, uma de minhas partidas mais antigas
Nos anos setenta aprendi a jogar
Xadrez com meus vizinhos na rua onde morei e depois fui para a Escola Técnica
Federal do Ceará, onde os conhecimentos da Arte de Caíssa foram se
consolidando. Em seguida passei a participar dos campeonatos universitários depois
de ter passado no concurso vestibular da Universidade Federal do Ceará. Entretanto,
ao rever os velhos alfarrábios encontrei apenas duas partidas do ano de 1979 no
meu primeiro ano universitário. Infelizmente, os registros dos campeonatos
internos da Escola Técnica se perderam pelo caminho, e quando terminei o curso
universitário tive que sair da casa de meus pais para trabalhar em outro
estado. Durante as mudanças que fiz saindo de Fortaleza-CE para morar em
Salvador-BA, e finalmente, saindo de Salvador para morar em Natal-RN. E estas
mudanças me custaram à perda de súmulas, fotos, medalhas e troféus daquela
época juvenil, os quais eu tinha deixado na minha casa em Fortaleza-CE.
Figura 1 – Locais de Fortaleza-CE onde os Jogos Universitários eram realizados
Nos anos de Escola Técnica
participei de diversos torneios, tanto de Xadrez, como de atletismo e outros esportes
de campo e quadra, nestes obtive várias vitórias. E fui procurar entre as
tralhas. Não é possível que não tenha sobrado nada. Até que numa velha caixa
por baixo de um jogo de peças de Xadrez encontrei algumas anotações. E dentre
estas anotações dos jogos de xadrez dos anos setenta restaram apenas duas
súmulas dos tempos universitários, que tinham ficado na poeira do tempo, ou
mesmo no esquecimento, se felizmente não fosse o oportuno fundo de uma caixa
com minhas peças do meu antigo jogo de Xadrez. Estas peças são de plástico dos
brinquedos da marca Gulliver, xadrez oficial, bastante popular naquela década.
A velha caixa é uma relíquia, que antes abrigavam utensílios de costura da Dona
Antonieta, minha mamãe, a caixa tinha a tampa quebrada. Assim devido ao defeito,
minha mãe me ofereceu a mesma para eu guardar as peças e aproveitei para também
colocar algumas súmulas, para forrá-las. E foram estes os únicos registros que
sobraram, pois todos os demais outros papeis juntamente com alguns livros e
revistas foram destinados ao lixo.
Das duas partidas encontradas
escolhi uma, que tinha menos erro, para apresentar neste artigo. Não é uma obra
de arte, mas o importante é o registro e a grata alegria de mostrar um pouco
daqueles momentos vividos sob a forma de uma partida de Xadrez.
Na 5ª Rodada pelo Campeonato Universitário do
Estado do Ceará de 1979 joguei contra o colega de Universidade Mauro Calixto,
que jogou de brancas e abriu o jogo com d4 (peão da Dama):
1.d4 d5 2.c4 c6 (lance característico da defesa eslava) 3.Cc3 Cf6 4.Cf3 ... .
Diagrama 1 – Depois de
4... Dc7!?
4 ... Dc7!? (Movimento não usual nesta posição, a continuação
esperada seria 4.... dxc4 5.a4 Bf5 6.e3 e6 7.Bc4 com jogo pouco melhor para as
brancas, mas as pretas têm possibilidades)
5.h3?! (lance passivo melhor seria 5.cxd5 cxd5 6.Bg5 e6 7.e3 Cc6
com melhor desenvolvimento, ou continuar com 5.e3 ou 5.Bg5 seguindo com
desenvolvimento)
5... Cbd7 (Bloqueando o Bispo da Dama contrariando a filosofia da
defesa, melhor seria 5.... dxc4 6.a4 e6 7.e3 Bb4 8.Bxc4 com as pretas
desenvolvendo a ala do rei)
6.e3 e4?! (Não observando a possibilidade de ter o peão d5 isolado
solto no centro, contudo poderia ter continuado com 6....e6 7.Bd3 dxc4 seguindo
o desenvolvimento com jogo equilibrado)
Como um relógio as brancas seguem
firmes como o desenvolvimento planejado não se importando com o lance inusitado
realizado pelas negras. E não observam o risco deste comportamento.
7.cxd5 Cxd5 8.Cxd5 cxd5 9.Bd3?? (Blunder. Grande erro da abertura.
Melhor seria 9.dxe5 Nxe5 10.Bb5+ Bd7 11.Bxd7+ Cxd7 12.Dxd5 ganhando o peão
preto)
Diagrama 2 – Depois de 9...
e4
Por esta não esperava! Pois, ocorreu foi uma reviravolta
a favor do time preto, que seguiu firme com:
9... e4 10.Dc2 Dxc2 11.Bxc2 exf3 12.gxf3 Be7 13.Bb3 (As brancas deveriam
ter priorizado o desenvolvimento através de 13.Bd2 seguido de 14.Re2 ligando
rapidamente as torres)
As pretas capturaram o cavalo
branco em f3 e agora seguem melhorando o posicionamento de suas peças. E as
brancas conformadas seguem dando tempo para o adversário.
13... Cf6 14.Bd2 O-O 15.Bc3? (perda de tempo ao invés de ligar as
torres rapidamente)
15... a5 16.Bc2 Bd7 17.O-O-O (Retirando o rei do centro para ala da
dama, porém lá as colunas serão abertas para o ataque das torres pretas, mas
também era aceitável 17.Re2)
17.... b5 18.a3 (lance tímido poderia ter posicionado a torre da
dama na coluna aberta)
E lá se vem os peões pretos da
ala da dama descendo a ladeira ao encalço do monarca branco.
18... b4! 19. axb4 axb4 20.Be1 Tfc8 21.Rb1 b3!! 22.Bd3 (Se capturasse
o peão 22.Bxb3?! Bf5+ 23.e4 Cxe4 24.Bc2 Txc2 25.fxe4 Bxe4)
O monarca branco está encurralado
entre as colunas e sujeito a mobilidade e agressividade dos bispos adversários.
22... Ta2 23.Bc3 Txc3 24.bxc3 Ba3 25.c4? (Tem peça solta e o peão
negro e5 atrapalha o movimento das peças pretas)
25... Tb2+ 26.Ra1 Txf2 27.cxd5? (Abrindo o jogo e trazendo o cavalo
preto para o jogo)
Diagrama 3 – Depois de 27...
Cxd5
27... Cxd5 28.Thf1 (melhor seria 28.Tc1)
28... Bb2+ 29. Abandonam (Se movessem 29.Rb1 Cc3++ xeque-mate) 0-1
Esta partida de xadrez não é um
clássico, nem um jogo de grande mestre, mas é um dos poucos registros dos meus
primeiros jogos na bela capital alencarina. Ao final do campeonato fiquei empatado
da sexta a oitava colocação, encontrei derrotas fragorosas, desta forma decidi
melhorar meu desempenho. Depois deste campeonato resolvi me preparar para o
próximo torneio estudando pelo menos uma hora por dia, o qual rendeu bons
frutos.
Abaixo segue a sequência de lances da partida apresentada neste artigo:
Autor deste artigo: Paulo Sérgio e Silva, nascido em Fortaleza capital do Estado do Ceará, Brasil.
\PSS
Muito interessante como um jogo que a princípio aprendido feito brincadeira de criança possa guardar tantas lembranças de tantos momentos vividos ao longo de toda uma existência .
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