Xadrez Jogo Intelectual


Quando pensamos em xadrez vem logo à mente as expressões “jogo da inteligência” ou “jogo do intelecto”, talvez seja porque o jogo mexe com a mente, faz o cérebro trabalhar. E tem afinidade com características acadêmicas, visto que é necessário ler livros de xadrez, e conhecer as histórias e lendas que envolvem o jogo, bem como conhecer o legado dos campeões mundiais há seu tempo. Então, existe todo um contexto envolto deste jogo que tem como ferramenta o intelecto, e a seguir vamos contextualizar as explicações para a consideração de que este jogo é o “jogo de intelectual”. Lembrando que dentre os que pensam assim, encontramos pessoas que não sabem que o jogo de xadrez é um esporte e veem este como um simples jogo de passatempo.
Figura 1 – O pensador no xadrez (1)


ORIGEM DA CRENÇA DO JOGO INTELECTUAL

Alguns tentam explicar que esta ideia de que o xadrez é um “jogo de intelectual” deve-se ao fato que o ato de jogar xadrez é um processo do intelecto. Entre os meios acadêmicos encontramos pesquisadores e pedagogos que trabalham e aconselham a aplicação do xadrez para amoldar e aprimorar o intelecto de jovens hiperativos, ou aumentar a capacidade de cálculo dos estudantes. Aliado a isto existem estudos sobre o uso do jogo como ferramenta para aumentar a capacidade de cálculo; a influência comportamental; a melhora a concentração; na prevenção do Alzheimer; e assim vai a lista de aplicações que têm relação do jogo com as atividades intelectuais do individuo. Levando a pessoa comum a imaginar que o jogo se resume a simples atividade mental dos praticantes.

Vamos à outra explicação. Desde a antiga Índia surgiram grupos entorno da prática do xadrez, além dos simples e eventuais jogadores surgiram os compositores de problema, escritores de livros, analistas de jogos, comentaristas, educadores e professores, todos contribuindo para que este jogo continue vivo em suas comunidades. Segundo os estudiosos, existe uma história indiana que conta que parte deste grupo, especificamente os escritores de xadrez, no século XI estabeleceram uma distinção entre o original chaturanga, e uma forma recente do jogo, associada com buddhi, iluminado ou intelectual. Para melhor entender o Buddhi pode ser definido como um vigoroso estado mental, ou, o poder de formar e reter concepções e noções gerais, reação, intelecto, julgamento, percepção, conhecimento de si mesmo, consciência, vontade e disposição, presença de espírito, inteligência qualificada e preparada. Que segundo o conceito indiano podemos destacar em quatro competências para caracterizar uma pessoa inteligente:
·         Cognitiva – inclui sensitividade no contexto, compreender, discriminação, solução de problema e comunicação efetiva.
·         Social – atendimento às normas sociais, serviços para anciãos, obediência, ajuda aos necessitados, mostrar preocupação com o meio ambiente.
·         Empreendedor – Trabalho duro, compromisso, vigilância e comportamento direcionado para as metas.
·         Emocional – Controle da emoção, honestidade, cortesia, análise realista de si mesmo, bom comportamento.

Como dito antes, devido aos escritores de xadrez na Índia o jogo de xadrez ficou conhecido como buddhi-dyuta, isto é, “O jogo do Iluminado” ou “O jogo intelectual”.


Figura 2 – Silêncio, estou pensando!

RELAÇÃO DO JOGO DA INTELIGÊNCIA

Na ideia de correlacionar o jogo de xadrez ao intelecto, aparece em paralelo outra relação: jogo da inteligência. Com base nesta relação alguns pesquisadores chegaram a mostrar em tabelas a relação entre “a classificação do enxadrista” com “o grau de inteligência”, como sendo diretamente proporcional, apresentando 72% de correlação. No livro “A Short History of Chess” (Uma classificação da historia do xadrez), o autor Davidson relata o método de Spearman. Entretanto, sabemos que existem muitos fatores, para a formação de um enxadrista bem sucedido, não apenas a inteligência.

Atualmente, os estudiosos do xadrez sabem que a inteligência não é tudo para o jogador de xadrez. Pois, alguém pode ser inteligente, mas este possivelmente não pense logicamente. Pelo fato de que algumas pessoas apenas pensam diferentemente das outras. E que podem ser rápidas ou lentas, quanto à velocidade de aprendizagem e raciocínio. Sabemos que o xadrez não é somente memorização de linhas de jogo e o uso da inteligência superior para blefar e enganar no calor da batalha, alguém do outro lado do tabuleiro.

Jogar, com efeito, requer psicologia e lógica, esta segunda é a maior parte que pode determinar o quão bem você joga xadrez. Independente do nível de inteligência um enxadrista pode lançar mão de algumas ferramentas para desenvolver seu jogo: resolver quebra-cabeça de lógica, ter um treinador, e jogar com pessoas com qualificação muito alta que a sua. Além disso, como todas as coisas, praticar e estudar são de altíssima importância, a fim de que o individue chegue a ser o campeão local ou ao nível de grande mestre.

Ao comentar dentre amigos o tema do “xadrez intelectual”, sempre surge a relação com a inteligência. Um amigo, perguntou: – que espécie de inteligência você quer dizer? Ele seguiu comentando. O filho de meu amigo com certo nível de autista – é inteligentíssimo no senso padrão, também se sai bem em leitura, é bom em jogos, tem excelente memória etc. Mas, a necessária inteligente emocional diante das qualificações sociais é baixa, então ele dificilmente estaria hábil, para tomar parte em uma luta psicológica, ou um debate de ideias. Resumindo, estou tentando ensinar xadrez para ele, mas tem sido uma luta. – Ele aprendeu a fazer os movimentos, calcular e elaborar planos básicos, mas falta alguma coisa fundamental para ele, propriamente, entender do jogo. Não posso forçar demais – ou talvez eu não esteja passando a informação eficientemente. Entretanto, meu filho não é tão inteligente quanto ele, mas tem um retorno muito mais inteligente – ele tem muito melhor conhecimento motor, bom relacionamento social e algumas vezes chegando a ser brilhante no desenvolvimento de jogadas. Ele é muito melhor no xadrez. E continuo insistindo nos treinos com o amigo, que está melhorando um pouco a cada dia, possivelmente estou ajudando a desenvolver outras áreas de seu cérebro, que o jogo exige para ser jogado num melhor nível.

Figura 3 – A turma estudando xadrez (2).


CONCLUSÃO

Então, se inteligência tem alguma relação com a habilidade de praticar xadrez, comprova-se que esta relação não é de um para um, pois existem várias formas de inteligência, e deve variar de pessoa para pessoa. Outras áreas como memória, desenvoltura, experiência, tomada de decisão e criatividade tudo tem alguma fonte, input de entrada para formar não só um excelente jogador de xadrez, mas verdadeiro membro da sociedade que possa aplicar suas habilidades desenvolvidas na vida diária.

Mais uma coisa é certa todo mundo sempre vai relacionar este maravilhoso jogo como o “jogo intelectual”. Para concluir, vendo as publicidades e filmes em nossa volta, quando estes mostram uma sena com xadrez, geralmente querem indicar que o ambiente envolve inteligência, ou nível de escolaridade superior, exige cautela, um momento de estudo ou algo que merece atenção ao ser realizado etc. Também, nestas senas alguém faz um movimento com uma peça e diz: “xeque-mate”. Tudo baseado na crença popular de que o xadrez é um “jogo intelectual”. – Verdade! E por certo ele é, mas é mais que isso!

BIBLIOGRAFIA

- Pachmam, Ludek - Fundamentos do Xadrez, o meio jogo. Editora Presença, Lta, Lisboa, 1979. Foto da capa.

- Horton, Byrne J. – Moderno Dicionário de Xadrez, IBRASA, São Paulo, 1973.

Observação (1): a foto da figura 1 é uma composição da foto de "O pensador" e uma mesa de xadrez de marmore, ambas retiradas de fotos avulsas da internet.

Observação (2): a foto da figura 3 é uma composição da foto da capa do livro que comprei, título: Fundamentos do xadrez.




Autor: Paulo Sérgio e Silva
/PSS 

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