Importância do repertório de aberturas no xadrez


Dentre os preparativos de um jogador de xadrez para jogar um torneio, seja ao vivo ou por correspondência. Este deve preparar seu repertório de aberturas, para desenvolver seu jogo dentro de parâmetros e situações familiares. A preparação bem feita deixa o enxadrista seguro, quando os problemas, batalhas e embates aparecerem pelo caminho. Quanto mais preparado para um teste mais seguro você fica, não é verdade? Assim, passada essa fase com alguma vantagem por menor que seja é importante, para atingir o objetivo final. Mas se não for possível ter vantagem, pelo menos sair com uma posição próxima do equilíbrio. E se, infelizmente saiu da abertura com alguma desvantagem, ânimo nada está perdido; ainda não! – Brincadeira. O otimismo e a autoconfiança devem sempre estar presente em sua mente em todas as fases do jogo de xadrez.


Figura 1 – Rascunho de um desenho de Bobby Fischer

Então, é fundamental escolher e aprender as linhas de jogo preferidas, aquelas que você se sente bem. Sabemos que caminhar por trilhas conhecidas é mais fácil, se ganha tempo e evitam-se surpresas. Tudo fica mais claro. Essa é uma estratégia de jogo, que deve ser aprimorada caso queira ter sucesso em campeonatos e mesmo em partidas amistosas. Observamos que esta preparação não se aplica apenas ao xadrez, também vale para seu dia a dia, durante os enfrentamentos do cotidiano. Por exemplo: você pode usar para enfrentar um exame de concurso, estudar a forma e a sequência de responder as questões. Ou, para uma entrevista de emprego, ou mesmo, uma apresentação de alguma palestra na escola etc. Então, no xadrez devemos nos preparar para enfrentar as três fases de um jogo: abertura; meio-jogo; final. Aqui estamos tratando apenas da abertura, que pode ser chave para os resultados positivos durante suas batalhas enxadrísticas.  Então, é importante vê as partidas dos Grandes Mestres (GM), principalmente os de sua simpatia, aqueles que jogam linhas e variantes de jogo que são compatíveis com sua forma de jogar.

Lembrei-me de um fato que ocorreu no início dos anos oitenta, quando estávamos a nos preparar para jogar um torneio de equipes nacionais na capital do Estado do Maranhão (MA), cidade de São Luiz. Eram os jogos universitários de xadrez por equipe. E a gente estava no ônibus rumo à São Luiz, e na ocasião dois de nossos companheiros de time tinham comprado livros novos e estavam estudando novas linhas de jogo, principalmente, novas aberturas. Achei um absurdo. Mas, a coordenação da delegação achou que seria bom surpreender alguns adversários, que já nos conheciam. – Tudo bem! E nossos companheiros enfrentaram nossos adversários usando novas linhas de jogo recém-estudadas. Nas duas primeiras rodadas foram duas derrotas catastróficas, e na terceira rodada tiveram que voltar aos velhos planos de jogo, os quais eles sempre usavam. Mas, já era tarde, o nosso campeonato estava comprometido e a equipe do Estado do Ceará (CE) não se foi bem. Esta é uma lição aprendida, pois uma vez adotado um repertório de aberturas. Este deve ser atualizado e melhorado, fazer upgrade sempre é necessário. Isto é tão importante, que caso queira mudar. Sugerimos que faça aos poucos, gradativamente, paulatinamente, a fim de que não haja uma brusca mudança acarretando queda de rendimento e causando resultados desastrosos, como vivenciamos no torneio de equipes.

Então, como estava dizendo dos Grandes Mestres. Faz-se necessário observar quais as aberturas, ataques e defesas, que ele usa. Pessoalmente, escolhi Bobby Fischer, também, porque em 1981 ganhei um livro com as 60 melhores partidas deste grande jogador. E gostei da forma que ele encarava seus adversários. Começava sempre com o peão do Rei (1.e4,...) quase sempre quando estava de brancas. E usava a abertura Ruy Lopez se o oponente do reino preto respondesse com peão do Rei (1.e4, e5). E usava a Defesa Siciliana quando estava de pretas se o oponente iniciasse o jogo com o peão do Bispo da Dama (1.e4, c5). E usava a Defesa Índia do Rei quando estava de pretas se o oponente de brancas quase sempre iniciasse o jogo com o peão da Dama ou peão do Bispo (1.e4, d4) ou (1.e4, c4). Também, sempre jogava de brancas contra a Defesa Francesa (1.e4, e3), Caro-Kann (1.e4, c6) etc. 

Com base nestas observações preparei meu repertório de aberturas, que passei a usar em meus jogos oficiais e amistosos. Assim, quando começa o jogo e o oponente faz seu movimento inicial já sei por onde seguir pelo menos nos primeiros lances. E surgem as pistas do que fazer. Contudo, você se acostuma tanto com esta ou aquela linha, que a forma de jogar fica gravada na mente e tão fixa, tatuada mesmo, que é dificil se livrar dela. Pessoalmente, faz algum tempo que tento evitar usar a "linha das trocas" da partida Ruy Lopez na defesa Morphy, que o GM Bobby Fischer usou algumas vezes. E passei a estudar outras continuações da Ruy Lopez sem trocar o Bispo pelo Cavalo. Então, eu digo para mim. – Hoje não vou usar a variante das trocas. E quando sento diante do tabuleiro, e o oponente responde com o peão do Rei (1.e4, e5). Lá vou eu usando esta linha de jogo. Isso aconteceu neste mês, em meu último campeonato acabei usando a dita linha de jogo por ser minha conhecida (1), contudo ultimamente com os estudos que surgiram as derrotas têm batido à porta, e as vitórias são suadas e duras, quase sempre conseguidas no meio-jogo ou nos finais dos jogos.

Para ilustrar vamos mostrar uma partida que encontrei entre minhas súmulas antiga, Este jogo é do campeonato dos Industriários do Rio Grande do Norte de 1993, realizado na cidade de Natal-RN, Brasil, que joguei contra meu amigo José Leal, Músico, Engenheiro, Enxadrista e companheiro de trabalho.




Na verdade este abandono foi uma surpresa para mim, pois ainda tinha muito jogo. O programa do site "chess.com" sugere a seguinte continuação: 22... Qe6 23.fxg4 hxg4 24.g3 Qe5 25.Kg2 ... ainda com muita luta pela frente. Queria manter a pressão, aumentando a preocupação dele com a segurança de seu rei preto, e pelo visto deu certo.

Diagrama (2)

Comentários:
Pretas: 7... Bc5?! duvidoso; melhor (7... Qf6);
Pretas: 9... Nf6 ? erro; melhor (9... f6);
Brancas 20.b3 ? erro; melhor (20.fxg4 Rxg4);
Pretas: 20... Re8 ?? equívoco; melhor (20... Qxh4);
Brancas: 21.Qe3 ?? equívoco; melhor (21.Qe3 ...);
Pretas: 21... Qd7 ?? equívoco; melhor (21... Qxh4)
Depois de 22.Qe7 as Pretas abandonaram.


Observação (1): A partida do campeonato deste mês de setembro/2018, que fiz referência será apresentada em artigo específico.

Observação (2): No diagrama a anotação está em inglês, pois foi gerado no "chess.com". Traduzindo para o português: P=Peão; R=Torre; N=Cavalo; B=Bispo; Q=Rainha; K=Rei.

Autor: Paulo Sérgio e Silva
\PSS

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