Jogo de xadrez presencial


Depois da correria que enfrentei para conseguir a inscrição no torneio Zonal da Confederação Brasileira de Xadrez (CBX) para o estado do Rio Grande do Norte. No feriado da independência do Brasil, sete de setembro, às 19:00 comecei o jogo da primeira rodada do campeonato. Estava inseguro, pois fazia vinte e quatro anos sem jogar partidas presenciais em campeonatos oficiais. Tudo parecia novo, o ambiente bonito com as mesas de xadrez bem organizadas, e tudo formava um clima amigável, também as pessoas estavam animadas para jogar.

Figura 1 – Sala do campeonato Zonal CBX RN

Nesta minha primeira partida do torneio fui apontado para começar a jogar de pretas contra o jovem enxadrista Davi Alves. O meu oponente começou com o Peão do Rei, e4. Que respondi com o Peão do Bispo da Dama, c5 (figura 1). Os movimentos iniciais dos peões definiram que a abertura a ser jogada seria a Defesa Siciliana. Em alguns países europeus a DefesaSiciliana é chamada de Ataque Siciliano, que se caracteriza por ser uma abertura agressiva se transformando em verdadeiro combate. Segundo EdwardLasker (1885-1981): “Cada lance é um golpe de martelo”. E Tarrasch (1862-1934) afirmava que na Siciliana “as brancas têm melhor jogo para suas peças, porém as pretas dispõem de melhor estrutura de peões”. Para ter uma ideia da complexidade e importância desta abertura, no livro Aberturas Semiaberta de Ludek Pachman (1924-2003) das 347 páginas, cerca de 150 são dedicadas a esta defesa, mais de 40%.

Esta linha de jogo, precisamente esta defesa foi citada por Polerio (1550-1610), enxadrista italiano, em 1590. E chegou aos dias de hoje com uma grande popularidade, visto que das cinco partidas que joguei quatro foram Sicilianas, acredito que esta alta frequência no uso desta defesa tenha sido motivada pela coincidência no repertório de aberturas adotados por mim e meus oponentes.

Uma boa discussão sobre ficar decorando os lances de dezenas de variantes passa pelo estilo de jogo de cada jogador envolvido. Podemos dizer que as estratégias dos dois jogadores entram em conflito e as posições resultantes não são claras, visto que estas apresentam uma faixa de incerteza, onde o sucesso não depende do número de movimentos memorizados dentre as inúmeras variantes, mas da percepção, astúcia, audácia e energia empregada na condução do ataque ou contra-ataque. Sabemos que gravando alguns lances e variantes chaves, pode-se ganhar tempo ou surpreender o seu oponente fazendo que este saia de sua zona de conforto.
Falando em zona de conforto, tem um texto no livro de A. S. Kikitin, (Defesa Siciliana, variante Scheveningen), onde ele cita "que podemos afirmar que a maioria dos sistemas de abertura converge para uma igualdade com possibilidades recíprocas, o quê não significa que a partida terminará forçosamente em empate". Então, podemos complementar que a seleção de uma abertura antes de começar o jogo está ligada mais ao estilo de jogo, e a influência da pontuação no torneio, objetivos dentro da competição, estado de ânimo, e também, se este sistema incomoda o oponente. Do que ter a formula para ganhar o jogo em dez lances. 

Neste campeonato, que agora nos referimos, não me preparei como deveria. E senti a pressão. Nos primeiros movimentos, eu estava nervoso e inseguro, durante o jogo a adrenalina e a emoção foram subindo conforme a tensão e a energia da luta. Até que o tempo vai passando e você começa a se soltar. Ainda segui me acostumando com o relógio digital, era minha primeira vez com um destes. Pois, tenho um relógio analógico, que até a presente data não foi utilizado em partidas oficiais. 

Tanto tempo jogando xadrez por correspondência a gente sente a diferença, entre jogar uma partida pensada em três horas presentes, e uma partida onde temos três dias, para responder um lance, e a partida pode levar meses para terminar. Muito diferente.


Veja abaixo o diagrama com a análise desta partida de xadrez, que marcou o meu retorno à sala de xadrez e ao ambiente do jogo ao vivo. Quanto à partida inicialmente ocorreram pequenas falhas, que não comprometeram o andamento da partida, até que no vigésimo sétimo lance cometi um erro, perdendo um peão. E com o tempo escasso tivemos que jogar um pouco mais rápido, e foi aí, que consegui empatar num final de torre e peão. O acordo foi inevitável. Quase!




 Diagrama 1 - Partida de xadrez (Davi Alves vs Paulo Sérgio)


Sites em referência

Observação: no site de resultados estou em quarto lugar.

Bibliografia

- Nikitin, A.S.; Defesa Siciliana, Variante Scheveningen. Ediciones Martínez Roca S.A.-Bacelona-Espanha, 1985.

- Horton, Byrne J.; Moderno Dicionário de Xadrez. IBRASA-Instituto Brasileira de Difusão Cultural S.A.- São Paulo-SP, 1973.

- Pachman, Luck; Teoria Moderna en Ajedrez, Aperturas Semi-Abiertas; Ediciones Martinez Roca. Barcelona-Espanha, 1972.

Autor: Paulo Sérgio e Silva
\PSS

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