Provocando aborrecimento no jogo de xadrez
Neste jogo tão especial, onde
os comportamentos voltados ao respeito, cavalheirismo, gentileza, cordialidade
são verdadeiros componentes que fazer parte de um jogo de xadrez. Este jeito de
ser do jogo cria uma atmosfera neste ambiente de profunda concentração. Além
disso, tudo diante do tabuleiro aliado ao silêncio dos presentes fazem os
participantes se sentirem especiais, criando uma cumplicidade entre jogadores antes
da composição de uma partida única. Sabendo que passado aquele momento só
restará os registros frios das súmulas, que no futuro poderão remontar a
sequência de movimentos pautados durante este confronto, contudo os
comportamentos e os sentimentos durante a realização dos movimentos não sairão
do papel.
O inconformismo de um jogador
com a derrota, devido às frustrações de suas falhas. Devem ser contidas e
entendidas como uma oportunidade de aprendizado. Entretanto, esta demonstração
de inconformismo será objeto de outro artigo, visto que agora faremos
referência à irritação provocada pelo outro jogador, a fim de obter alguma
vantagem através de comportamentos fora do tabuleiro. Sabemos que estas ações podem, ou não,
influenciar na decisão do jogador condutor do exército adversário. Os atos que causam
irritação ao jogador, mesmo que estes sejam sutis quase imperceptíveis para os
espectadores. São considerados como um desvio de conduta, onde a ética fica de
lado, neste momento o “fair play” é uma miragem apenas, e estes artifícios necessários
para vencer o jogo são trazidos como verdadeiras armas secretas para dentro do jogo.
Tenho um amigo, Doutor em
Psicologia, que falou para mim o seguinte: “- não existe neurose quando uma
pessoa esta sozinha dentro de um elevador. Não é verdade? Mas, no momento que a
porta abre e uma pessoa entrar o cérebro começar a tirar impressões, observando
roupa, cheiro, penteado e tudo mais até o fim da jornada”. É a pura verdade.
Então, no jogo de xadrez existe uma interação entre dois intelectos presentes
no combate. Enquanto, o jogador tem a vez da jogada, ou não, de vez enquanto a
mente dá um giro e fica observando algumas coisas fora do tabuleiro. Mesmo
quando é a vez de jogar além da concentração no lance, a mente do jogado tende
a dar uma volta rápida pelo ambiente. E sabendo disso o adversário, que se
considera menos preparado começa a fazer certas ações para incomodar.
Estes aborrecimentos podem ser
punidos conforme a Lei do Xadrez (item 11.5). Então, podemos listar alguns
comportamentos usados para irritar o outro jogador, principalmente, quando
estão inferiorizados no jogo:
a) Fazer movimentos bruscos na
cadeira;
b) Fumar um charuto. Ainda bem que
no Brasil tem uma lei que proíbe fumar em locais fechados. Neste caso a Lei do
Xadrez no item 11.3.4 cita que: “fumar somente em área definida pelo árbitro”;
c) Mudar constantemente de
posição, como: balançar o corpo ou a cadeira, mantendo-a suspensa sobre as duas
pernas posteriores;
d) Conversar com espectadores ao
fazer o lance;
e) Cantarolar ou assobiar baixinho,
sussurrar para si mesmo ou expelir suspiros;
f) Martelar com os dedos, mãos ou
pés;
g) Pentear-se constantemente,
ajustar os óculos ou as roupas;
h) Bater a peça no tabuleiro de
forma vigorosa, enquanto lança olhar dominador;
i) Resmungar quando um sacrifício ou
uma troca é executado;
j) Entrelaçar os dedos para
demonstrar satisfação com o próprio lance, ou demonstrar surpresa no caso de algum
lance incomum do oponente.
Atualmente, na Lei do Xadrez o “fair
play” é citado no item 12.2. A repetição e a persistência na falta reclamada
pode lavar o jogador infrator a ser punida de uma simples advertência até a
exclusão do campeonato, conforme os itens 11.7 e 12.9 da Lei do Xadrez.
Quem jogou uma partida em algum
torneio de xadrez deve ter sido vitima de alguma destas ações, mesmo que
levemente. Passei por uma experiência desta. No final dos anos 70 joguei um
campeonato em um clube na cidade de Fortaleza-CE, era apenas um menino
convidado para jogar. O oponente era um médico conhecido, sócio do clube, que
ao perder uma torre no meio jogo, começou a fumar um charuto. Então, na minha
vez de jogar chamei o árbitro, e meu oponente saiu da sala e foi fumar fora no
jardim antes da chegada do árbitro. Levantava e logo voltava sempre com
movimentos bruscos. Ao retomar o jogo, começava a bater as peças no tabuleiro
ao fazer seus lances. Até que cometi um deslize, e a Dama dele ficou dando
xeque perpétuo. E o jogo terminou empatado. Fiquei muito frustrado com o
ocorrido, mas tive que reconhecer que houve um pouco de culpa de minha parte ao
continuar jogando sem voltar a reclamar. Acho que fiquei intimidado e sem ação
possivelmente pelo que o oponente representava para o clube.
A lição foi a seguinte: era
para eu ter chamado o árbitro e reclamado quantas vezes fossem necessárias. Não
adianta lamentar se a vez e o tempo passaram e o oponente atingiu seu objetivo.
Nos dias de hoje sabemos que temos uma Lei do Xadrez clara, que explicita a punição a
estes infratores, que mancham a reputação do xadrez.
Vídeo público do youtube para ilustrar.
Bibliografia
Horton, Byrne J. – Moderno Dicionário
de Xadrez, IBRASA, São Paulo, 1973. Pág. 26.
Lei do Xadrez em referência: FIDE
handbook – 01/01/2018. Itens 11.5; 11.7; 11.3.4; 12.2 e 12.9.
Se desejar pode visitar
a página Lei do Xadrez neste site.
Comentários
Postar um comentário