Xadrez - Um final de Peão e Cavalo

Os finais de Rei e peão e os finais de Torre e peão têm regras a serem seguidas em várias situações, para uma definição do resultado da partida. Enquanto os finais de Bispo e peão e os finais de Cavalo e peão têm suas peculiaridades, pois dependem grandemente da posição. E esta peça pode ser sacrificada pelo solitário peão passado, caso o oponente fique apenas com um Cavalo ou Bispo e Rei o jogo estará empatado. Contudo, os finais de Cavalo e peão e Cavalo são surpreendentes, quem tem o peão a mais pode ganhar quase sempre. É o que diz o livro. Mas, sabendo que estes finais são traiçoeiros. Quando ouvi esta afirmação lembrei-me de uma história de um peão a mais.



Figura 1 – Cavalo e peão

Uma história que meu avô contou para mim e meus irmãos sobre a astúcia de um peão a mais, que chegou num cavalo, ambos pareciam cansados. No interior do Estado do Ceará nas mediações da cidade do Acarape região que gente simples que atravessava um período de seca. O sol esturricava a vegetação da caatinga, meninos brincavam sob a sombra das poucas árvores, quando o forasteiro desapeou do castigado animal. E pediu a um dos meninos que pegasse uma panela emprestada para fazer o almoço, onde seria preparada uma sopa de pedras para matar a fome. O jovem saiu correndo gritando que o estranho precisava de uma panela para cozinhar e comer umas pedras. E rapidamente veio a panela, água para lavar as pedras e encher o cantil. Ele solicitou algum alimento e água para o cavalo no que foi atendido. Os curiosos do lugarejo apareceram de tudo que foi lugar, para vê como seria aquele almoço. O pessoal achou ralo o caldo, e o visitante reclamou da falta de tempero, então trouxeram um pouco de farinha, arroz, feijão, alguns legumes, um pedaço de batata, outro pedaço de macaxeira, um pouco de sal, uma pitada de pimenta, colorau e alguns talos de verduras. E o comerciante da bodega ficou sabendo e mandou entregar uns pequenos pedaços de toicinho e charque, que chegaram enroladas num pedaço de jornal. E o estranho aceitou o respeitoso agrado, colocou tudo na panela e alocou a mesma no fogão improvisado com pedras e lenha debaixo de uma árvore. As pessoas iam almoçavam rapidamente e voltavam para vê como seria comer as pedras. Até que o angu ficou pronto. E alguém forneceu prato e talher para o forasteiro, que começou a se servir. Quando encontrava uma pedra limpava bem e colocava num prato em separado, informando que no final do caldo ia engolir uma a uma. Raspou o tacho. E chamou o pessoal para ir ao chafariz informando que ia precisar de água para o processo de ingestão das pedras, todos desceram atrás do visitante. Quando chegou ao chafariz, disse que tinha esquecido uma resina especial, que ajudaria na digestão dos minerais, e pediu que todos esperassem, pois ele mesmo iria pegar em sua bolsa, que estava na árvore. E o homem foi caminhando subindo rumo a árvore, inicialmente caminhava tranquilamente, e foi acelerando o passo e a poeira denunciou a velocidade empregada pelo visitante. Quando de repente viram o forasteiro chegar ao cavalo e se prepara para montaria. Então, correram aos gritos de “pega”, “pega”... E a poeira encobriu o caminho do fugitivo. Quando chegaram com espingarda, revolver, armas diversas e alguma montaria, mas o homem já estava longe. E assim o vilarejo ficou dias, semanas e meses falando do trapaceiro que comeu e bebeu fartamente e foi embora sem engolir as pedras redondas. E lá se foi o peão a mais, esse do jeito que chegou se foi.

Exemplo: Final de Cavalo e peão

No final de uma partida realizada em Moscou no ano de 1939, Paul Keres (1916-1975) não conseguiu ganhar um final de Cavalo e peão contra Reshevsky (1911-1992), mesmo tendo um esperto peão a mais. Contudo, através de análise ficou demonstrado que o final poderia ter sido ganho pelas Brancas. Conforme citado no livro a partida estava ganha, mas até mesmo os Grandes Mestres experientes falham na execução deste tipo de final envolvendo apenas peão e Cavalo, sabendo que estes finais não ocorrem com tanta frequência como os outros finais. Veja o exemplo:

Diagrama-1 - Final de Cavalo e peão

Observamos que no lance 18 da continuação da partida, Keres optou pelo lance de Cavalo para a casa g7 (18. Ng7) e empatou a partida, motivo pelo qual aparece 1/2-1/2 no histórico do diagrama. Mas, a linha principal do exemplo acima é a sequência da análise, que a partir do lance 18 continuou com o movimento de peão para f4 ganhando para as Brancas.

Bibliografia

D’Agostini, Dr Orfeu Gilberto – Xadrez Básico; Ediouro Publicações S.A. – Rio de Janeiro, 1980.




Autor: Paulo Sérgio e Silva
\PSS

Comentários

  1. Mano o *peão* trapaceiro comeu a vontade na promessa aos curiosos de fazer sobresa *pedras* , mas acsbou fugindo de azalão; foi boa *lembrança*... só me lembrava da sopa das pedras...

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  2. Como num final de cavalo e peão veio a surpresa. O me fez lembrar foi a expressão que o vovô usou: "apareceu 'um peão a mais' na região". A gente sempre ria quando ele contava essa história e fazia os gestos...

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