O simbolismo e o jogo de xadrez
Desde o início o jogo de xadrez está
envolto em simbolismos ao longo de sua existência, começando pelas fábulas que
expressam a magia de sua criação. Aproveitando esta vocação do jogo de xadrez este
foi utilizado para explicar os povos de época, lugares, objetos e
acontecimentos não perceptivos. Conforme o espírito do período medieval foi
empreendido esforços para mostrar paralelismos entre o jogo de xadrez e as
condições sociais desta época. Afirmavam que o jogo de xadrez representava o
próprio campo de batalha da vida. Até hoje ainda os aficionados do xadrez
aprendem que existe algo relacionado à vida, podemos tomar como exemplo deste
sentimento o nome de alguns sites, em particular o nome deste blog (xadrez,
jogo e vida). Como tudo na vida as partidas têm três fases: começo, meio e fim.
Tem o paralelismo com uma batalha, possivelmente, o simbolismo mais intuitivo e
antigo do jogo milenar.
Figura 1 - Simboligia do jogo de xadrez
Xadrez - paralelismo com a vida
A busca do paralelismo e da representatividade
do jogo com a “vida” não para por ai, pois existe a conotação do antagonismo
entre o branco e o preto; da vida e da morte; ou também, o bem e o mal. As
peças do jogo de xadrez representam os homens mortais, terrenos, e antes e
depois do jogo que são conservadas em uma caixa ou um saco, para nos lembrar de
onde viemos todos e para onde todos e para onde todos retornaram. Como tem o
ditado que: – “o peão e o Rei depois do jogo vão parar no mesmo lugar, ou seja,
os homens pobres e humildes e, os poderosos e abastados depois da vida vão para
no mesmo buraco”. Outra conotação simbólica da vida é a seguinte:
·
O começo, o nascimento e o desenvolvimento do rebento, os quais correspondem
a abertura de jogo, que é uma fase muito importante para o bom andamento da
partida, – se iniciar bem, tudo irá bem;
·
O meio-jogo seria a luta pela sobrevivência com suas armadilhas, dificuldades
e percalços, onde o sucesso aparece em forma de combinações e planos bem
sucedidos;
·
Entretanto, vem à fase final de jogo, onde as sutilezas do acerto e da
falha convergem para o resultado da partida, onde o término da partida é concretizado
por uma vitória, coroada pela longevidade e pela permanência na terra, ou,
também esta permanência pode ser mantida por meio de um empate, mas também o
fim chega com uma derrota, a morte do reino, a degola, e o fim por um
xeque-mate cruel. Ou, mesmo pela entrega do reino, o velho abandono, quando o
monarca é deitado humildemente sobre o tabuleiro.
Xadrez - simbologia da sociedade medieval
Na simbologia “medieval” todos os
atores sociais estão bem presentes, se podemos dizer, que são encarnados num
avatar em forma de peça. Quando as figuras sobre o tabuleiro de xadrez “ganham”
vida, as peças assumem posições representativas das diversas situações na
sociedade. O monarca, Rei, simboliza todo o reinado; sua vida é a vida da
nação. A Rainha, Dama, representa a influência poderosíssima da mulher na vida
do reino. As Torres representam simbolizam a justiça itinerante. Os cavalos, ou
cavaleiros, simbolizam a aristocracia cosmopolita, verdadeiro cidadão do mundo,
que viaja com frequência por outras terras. Os Bispos simbolizam a hierarquia eclesiástica,
a influência da igreja no reino. Enquanto, os peões simbolizam os súditos, o
povo comum. Toda essa gente forma os pilares sociais representados, e quando
são misturados e chamados a lutar em favor do reino aparece uma figura que não
está no tabuleiro, “o demônio”, que está oculto e continuamente tentando os
jogadores para fazer um lance ruim, fraco, equivocado, indiferente ou infeliz.
Se o jogador faz um lance desta natureza, estará cometendo pecado e deverá ser
punido com uma captura, um xeque ou mesmo um xeque-mate.
O livro “Moderno Dicionário de Xadrez”
sugere aos que querem se aprofundar no simbolismo medieval buscar informações
no livro “A History of Chess, por H. J. R. Murray, capítulo V”, item “Os Moralistas”.
Xadrez - paralelismo com a batalha
A simbologia mais intuitiva é o paralelismo
com um “campo de batalha” e o confronto de dois exércitos antagônicos, com suas
batalhas sangrentas, onde o ego dos jogadores é posto à prova. Orgulhos
destroçados pela derrota, ou, o afagados pelos loiros da vitória. O chefe de
governo e estado representados pelo casal real; acompanhados pelo designo do
capelão, os Bispos, que seguem dando moral à tropa; a divisão de cavalaria, os
Cavalos, que apoia a marcha implacável sobre o inimigo; o armamento pesado como
tanque, canhões representados pelas Torres, que ficam na retaguarda até suas
investidas sempre estratégicas tanto na defesa como no ataque; e os soldados
infantes, representados pelos peões, numerosos e afeitos ao confronto corpo a
corpo. E ao redor do tabuleiro deve ter um espírito de cordialidade verdadeira,
onde a derrota deve ser encarada como uma experiência, para futuros confrontos.
Conclusão
Em suma dentre as simbologias citadas
vida, sociedade medieval e a batalha, também existem outras que são enumeradas
em diversos artigos sobre o tema. Uma conotação interessante é o do lance que
sempre abrilhanta e ornamenta um bom jogo de xadrez, o sacrifício de uma Dama
ou uma peça em troca da vitória, que pode ser visto como: “nem tudo que reluz é
ouro”; “cuidado com as coisas fáceis, que tudo na vida tem um preço”, estas são
algumas das simbologias que o ato do sacrifício de material ensina numa partida
de xadrez. O uso mnemônico do jogo foi, ou é usado, em cursos, propagandas,
filmes etc. Porque este dá uma ideia de inteligente, intelectualidade, formalidade
ao ambiente onde é montado. Quem não se lembra de ter ouvido alguém dizer. Quando
se deseja falar de algo, que precisa de um estudo apurado para as próximas
ações quase sempre se diz: – que isto deve ser tratado como um jogo de xadrez.
Hoje, está bem difundido que para
afastar “o demônio” da falha e cegueira enxadrística recomendam-se estudar os
finais, aberturas, estratégias e tácticas. Não tem mágica, para driblar este
mal, tem que estudar.
Bibliografia
Horton,
Byrne J.; Moderno Dicionário de Xadrez; Câmara Brasileira do Livro – São
Paulo-SP, 1973.
Autor: Paulo Sérgio e Silva
\PSS
Comentários
Postar um comentário