Ensinamento de honestidade e ética
Não sei precisar bem a data, mar era no início
dos anos setenta. Neste dia os meus irmãos ficaram jogando bola na Escola,
contudo preferi ir para casa. Passei pela escadaria vermelha do Estádio
Presidente Vargas bem devagar. Não no que estava pensando. Vinha caminhando
solitariamente nesta volta da escola quando estava chegando a minha rua, notei
que havia carros estacionados de um lado e de outro da rua de calçamento, havia
muita gente numa das casas, e outras andavam pela rua.
Então ao travessar a rua dei uma topada num
desnível do calçamento, ia caindo, ali reclinado de cabeça baixa me deparei com
um pequeno volume revolto em areia parecia uma ponta de dinheiro. Rapidamente,
deixei cair o meu caderno para despistar, e peguei o dinheiro com areia e tudo.
E segui normalmente, sem levantar suspeitas. Quando cheguei a minha casa e
apresentei para minha mãe.
Ela disse: – filho volte lá e encontre o dono
deste dinheiro.
Retruquei: – mãe, eu não posso sair perguntando
na festa de casamento de quem é o dinheiro. Vai aparecer muito dono.
E ela respondeu: – veja uma forma de encontrar
o dono.
Então, falei: – vou ficar próximo do local e
aguardarei dez minutos, se aparece alguém procurando o dinheiro é o dono.
Minha mãe respondeu: – dez não, trinta minutos.
E eu afirmei: – nem dez nem trinta, vou ficar
vinte minutos. Pois, se eu ficar parado muito tempo vendo o pessoal. Podem
pensar que estou querendo roubar.
E fui para lá, como quem não queria nada, o
mais próximo possível da festa. Sentei na calçada e fiquei atendo ao movimento,
também dava para vê os meninos jogando xadrez na porta da rua de uma das casas,
mas nesta tarde não estava com cabeça para jogar. O tempo não passava, e as
pessoas passavam e nem me viam. O relógio ficou mais lento quando completaram
os quinze minutos. Parecia uma eternidade cada volta do ponteiro dos minutos.
Ninguém apareceu procurando o dinheiro, mas resolvi dar uma última volta por
perto, para me certificar de que realmente o dono não estaria por perto, última
chance. Quando um Senhor se aproximou, fiquei pensando é ele.
Então, ele me disse: – vejo que você não veio
para festa.
Respondi em voz baixa: – não, mesmo.
Ele ordenou aumentando o tom de voz. – Então,
saia daqui!
Voltei para casa. Quando fui entregar a minha
mãe foi que observei a forma daquela quantidade de dinheiro. A forma do engodo
era cilíndrica e estava bem enrolado com ligas de borracha. Finalmente, ela
aceitou que o achado era nosso. Minha mãe me disse que iria preparar uma lista
de coisas, para a gente ir à bodega, pois não tinha nada na geladeira. Também,
tinha que vê o quanto poderíamos abater da dívida que tínhamos. Compramos as
coisas básicas e pagamos inteiramente a dívida, e ainda sobrou um pouquinho.
Meu pai estava trabalhando fora fazia oitos dias que não dava notícias. As provisões
que deixara tinham minguado há uns três dias, bem como o nosso crédito nas
vendas próximas. Ele só chegou dois dias depois do dinheiro salvador ter
chegado a nossa casa.
Quando a gente tem doze anos não pensa muito
nisso. Minha mãe racionando os mantimentos, para não faltar. Mesmo diante de
toda necessidade, ela recusou o dinheiro encontrado, que aparentemente caiu do
céu para nos ajudar. Antes tive que procurar o dono e passar por esta provação.
Depois a idade ensina que aquele gesto foi um belo
exemplo, pois são momentos como este que moldam o caráter de uma criança com
honestidade e ética. E que a cultura do jeitinho brasileiro, da malandragem e
dos espertos tão endeusados nas anedotas brasileiras, quando se incorporar a
busca dos bons preceitos éticos, parece feia.
Referência:
- A foto
foi composta pela minha foto e a capa do livro “A vida dos Grandes Brasileiros –
Rui Barbosa”, Editora Abril Cultural. Biografia que li e recomendo.
Autor:
Paulo Sérgio e Silva
\PSS
Mano... belo retrato de vida. Fatos como esse nos enriquece e nos faz orgulhosos pela oportunidade de termos
ResponderExcluirconvivido na mesma
realidade.
Mano, são lições como esta, que ensinam de verdade a ser um cidadão ético e honesto.
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