Xadrez - Um lance ilegal invisível

A quebra da lei do xadrez, ou seja, fazer um lance ilegal geralmente leva a partida à derrota. Entretanto existem situações em que a lei não cobre. E outros fatores passam a ser considerados pela arbitragem, contudo a maioria das providências nasce do apontamento do jogador, que se sente prejudicado. E a arbitragem dará a melhor solução sempre buscando tornar a sequencia de movimentos o mais legal possível. Mas, ocorreu no Campeonato Feminino Europeu 2019 uma situação onde ninguém se apercebeu da ilegalidade.


Figura 1 – Lance do Roque grande O-O-O

Falando em quebra da lei do xadrez. Lembrei-me do tempo quando a gente jogava xadrez com os meninos da rua, ainda nos tempos de aprendizagem, sempre alguém aparecia com uma regra nova. Uma das regras que me veio à lembrança: é que os peões só poderiam mover duas casas para frente se este tivesse na sua fileira de origem, tudo certo conforme as regras atuais, mas somente se fosse o primeiro movimento do jogo, o que é falso. Sabemos que este movimento de peão pode ser feito a qualquer momento do jogo, desde que este ainda não tenha sido movido. Outra regra, é que a captura "en passant" não era aceita. Não sabíamos por quê. E as novidades eram férteis, principalmente, referente à regra do roque. Lembro que inventaram que não tinha problema fazer o roque para escapar de um xeque, regra totalmente falsa. E outra, quando fosse fazer o roque maior, o Rei deveria mover três casas para o lado da Torre da Dama, e a Torre ficaria ao lado do Rei, essa regra é totalmente falsa. E as inovações nas regras diminuíram, quando apareceu um livro para principiantes, na rua. Era irritante saber que ficavam inventando isso ou aquilo, para tirar proveito de certa situação. Tudo era trapaça.

Dizem que Grande Napoleão Bonaparte não gostava de perder, e quando estava em desvantagem, e se ele tinha um Bispo, esta peça poderia trocar as cores da diagonal que percorria ao longo do movimento. Se o adversário não visse a irregularidade, o fato estava consumado.

Nem todo lance ilegal é intencional. Pois, existem situações em que os contendores não inventam, e mesmo observando piamente as regras pode ocorrer alguma falta. Ressaltamos, que o fato que vamos abordas difere muito dos fatos citados acima. Então, veja o fato interessante que ocorreu na terceira rodada do Campeonato Europeu Feminino de Xadrez Individual (European Women's Individual Championship) realizado na Turquia no mês passado, abril/2019. Quando a Mestre Internacional Maria Gevorgyan fez um movimento ilegal, um roque aparentemente comum como tantos outros movimentos, até para a sua oponente Deimante Cornette, outra Mestre Internacional, estava tudo normal. Também, a arbitragem não notou que existiu algo ilegal. Então, o vigésimo quarto lance foi realizado, roque grande (O-O-O), pela condutora das brancas. E assim, elas continuaram jogando e foram lá pelos oitenta lances, partida dura, e no final as brancas ganharam. Como ocorre em toda partida, as sumulas foram assinadas e apresentadas à arbitragem para registro e conferência. Só neste momento é que foi observado que os lances legais da partida foram até o vigésimo terceiro, assim os lances seguintes foram descartados. Mas, como não foi observado o lance ilegal em tempo o resultado foi mantido. E o curioso é que a vencedora foi a jogadora das brancas que realizou o lance ilegal. Visto que a regra do xadrez cita que as reclamações devem ser feitas na sua vez de jogar, com relógio parado, e requisitada a presença da arbitragem.

Entretanto, não houve intenção de burlar a regra, e por sua vez nem a prejudicada reclamou. Ninguém notou nada diferente até o final. Este é um fato inusitado, dificil de encontrar, ganhar com um lance ilegal.

Vamos ao ocorrido. Tudo começou no décimo quarto lance, quando Maria Gevorgyan moveu a Torre da casa “a1” para “b1”. Neste momento a possibilidade de realização do roque do Rei branco com a Torre da Dama ficou impedida.

Diagrama 1 – Lance 14 jogando a Torre branca de a1 para b1

Diagrama 2 – Lance 15 Bispo preto em f5 ataca a Torre branca

 Diagrama 3 – Logicamente as brancas retornam a Torre para a1

 Diagrama 4 – Depois do lance da Dama preta as brancas O-O-O [ilegal]

Acompanhe a sequência de lances da partida abaixo, diagrama 5, que foi consumada no vigésimo terceiro lance, conforme a lei do xadrez. Oficialmente a partida ficou registrada desta forma. 




Diagram 5 – Partida entre Maria vs Deimante

Imagine a surpresa das contendoras depois da conferência. Ao saber que pouco mais de vinte e cinco por cento dos lances foram válidos. E o resultado foi mantido, independente da irregularidade, houve uma disputa por este escore.


Referência

- Observação: a anotação nomenclatura das peças nos diagramas está em inglês: R=Torre; N=Cavalo; B=Bispo; Q=Dama; K=Rei.

- Diagrama 5 foi gerado no site “chess.com” o qual sou associado.

Site fonte:


Autor: Paulo Sérgio e Silva
\PSS









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