Xadrez – Cegueira enxadrística.


É perturbador a incapacidade de visualizar, em certo momento, um lance, um ataque incisivo, uma combinação importante, que se apresenta óbvia para outros, como: omitir um possível xeque-mate, ou mesmo um simples xeque, ou soltando uma peça num campo minado. São falhas que se apresentam incríveis, que acontecem até mesmo com Grandes Mestres. Quando os melhores jogadores de xadrez do mundo cometem uma cegueira enxadrística, que pode ser em forma de um equívoco, comumente chamado no mundo do xadrez de “blunder”, esta falta ganha conotação digna de manchetes de revistas especializadas, programas e sites que cobrem o esporte enxadrístico.



Uma coisa que deixa o jogador de xadrez aborrecido com ele próprio é ser vítima de uma cegueira enxadrística. No final de um movimento, quando o jogador solta a sua peça e aciona o relógio do oponente, e a resposta do condutor do outro exército em forma de “surpresa”. E todo o jogo vai por água abaixo. Ao cometer um “erro bobo”, tão evidente que pode ser percebido por uma principiante, depois este lance realmente estúpido o jogador faltoso fica atônito, com uma verdadeira ressaca moral. Chega até doer. Neste momento, a vítima toma consciência do ato de cegueira, e fica se perguntando: – como não vi isso?

Mas, a vida continua e o campeonato segue em frente. Para a continuação da partida, ou, para o próximo jogo, isto deve ser esquecido imediatamente. Escrevo isto com conhecimento de causa... E passado o evento, torneio ou apresentação, já em sua sala de treinamento será hora de rever esta falta, para que no futuro esta seja evitada. Sabendo que a cegueira enxadrística muitas vezes tem como fonte a fadiga, noites mal dormidas, cansaço de longas jornadas de cálculos. Também, segundo alguns estudos, parece ter uma relação negativa entre cegueira enxadrística e idade, principalmente devido ao avanço da idade. Tendo em vista, que comprovadamente o cérebro de uma pessoa mais velha se cansa mais rápido do que o cérebro de uma pessoa mais jovem.

Mas, existem jogadores que sofrem com estes enganos de forma crônica, possivelmente, não é um fato de verdadeira cegueira, mas de imaturidade enxadrística. Visto que nos primeiros meses, talvez anos, de aprendizagem são eventos corriqueiros. Estes erros e as possíveis cegueiras dos principiantes são corrigidos com treinos, e sequência de jogos.

Certa feita. Fiquei muito, muito aborrecido comigo mesmo, por ter ido a um churrasco com amigos antes de uma partida importante, que começava no final da tarde. Mesmo me controlando, bebendo refrigerante e comente pouco, este ato foi decisivo. Sem contar que eu era um dos jogadores mais velhos da competição, para completar ainda cheguei correndo bem no início da rodada. Esta falta de concentração e despreparo foi o motivo de um desastre. Durante o jogo, estava eu pensando. Quando de repente, vi um lance certeiro. E antes este parecia não ser bom, mas agora é uma bela miragem uma ilusão de ótica tão verdadeira, encontrei o lance ganhador, um achado, uma verdadeira pérola em pleno tabuleiro. Fiz o movimento. E veio um “boom”, uma pancada bem de frente. Os olhos se abriram, e vi o “desacerto” que cometi. Que sentimento ruim, visto que esta falta dificilmente seria reparada, e realmente não foi, e terminou se transformando em uma derrota.

No diagrama abaixo editei uma partida minha de 1993, onde o exemplo da cegueira enxadrística aparece ainda no oitavo lance. Veja a partida e depois acesse o vídeo de uma “cegada” do campeão mundial. Estes são exemplos claros de que o xadrez é fantasticamente ilimitado são inúmeras possibilidades desafiando o cérebro dos jogadores a cada movimento. Antes de vê o diagrama, observamos que ao lado dos comentários dos lances tem um número com um sinal de mais e de menos, isto é, o módulo do número é o valor da posição e peões, e o sinal positivo (+) significa vantagem para as brancas, e o negativo para as pretas (por exemplo, +2.05 significam: vantagem branca de 2,05 peões).



O vídeo começa com o erro do Campeão GM Magnus Carlsen, que se transforma em derrota diante do GM Viswanathan Anand. A Torre preta ataca o Bispo e o Cavalo e o Campeão Magnus escolhe continuar com o Cavalo no tabuleiro, Entretanto, o GM Anand conduz a pretas à vitória. Depois da falha o grande Campeão se curva diante do tabuleiro, para recuperar a concentração, infelizmente, o equívoco foi fatal.




O bom é que tem remédio. Para o impacto não ser grande demais: comece admitindo a falha, aceite que errou. Desculpe a si mesmo, perdoe-se, pois a vida segue e o tempo não para. Esqueça a cegueira acontecida. Pois, logo virá outro jogo, logicamente, a última falta deve ir para o fundo do baú. Para prevenir: comece se hidratando, faça boas refeições leves e nutritivas, descanse bem, procure dosar as energias antes e durante os torneios, e sempre se prepare melhor para as próximas lutas.

Referência:

- Vídeo do youtube: editado por Chess Studio, publicado em 27 de mai de 2017.

- O diagrama da partida ilustrativa foi gerado e comentado por mim no site “chess.com” ao qual sou filiado;


- A anotação das Peças= inglês/ português:  Torre=R/T; Cavalo=N/C; Bispo=B/B; Dama=Q/D; Rei=K/R; Peão=P/P;

Bibliografia:

- Horton, Byrne J.; Moderno Dicionário de Xadrez; Editado pelo Instituto Brasileiro de Difusão Cultural S.A. (Ibrasa); São Paulo; 1973.


Autor: Paulo Sérgio e Silva
\PSS

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