Xadrez – Cairns Cup 2020 confronto de Rainhas


As tardes desta semana têm sido divertidas acompanhando o torneio Cairns Cup, que é um campeonato com as melhores jogadoras de xadrez da atualidade. O Saint Louis Chess Club recebe pela segunda vez este charmoso certame, também o clube não tem medido esforços para promover e divulgar a prática do xadrez feminino. Neste torneio na sua quinta rodada me chamou à atenção uma partida com a abertura Ruy Lopez, simples e apresentando um desfecho resultante de detalhes sutis, onde uma pequena vantagem faz a diferença. É muito bom vê em tempo real as partidas sendo desenroladas e contando com bons comentaristas, que vão tentando antever os acontecimentos, saltando de partida em partida e se prendendo às que apresentam desfechos interessantes. Assim, você entra no clima e começa a ter seus palpites e vai vendo os erros e os acertos, e também, o tempo que não para, ou melhor, fica de um lado para o outro como uma batata quente, que ninguém deseja terminar com ele.



O belo do xadrez é que, como disse aqui neste torneio só tem estrelas do cenário mundial, ele avança sobre diferentes culturas. Jogadoras de diversas nacionalidades tão preparadas não deixam de desafiar a cada rodada os limites da natureza humana. 

Neste jogo os praticantes com suas limitações põem à prova a capacidade intelectual e emocional, lutando contra a influência de diversos sentimentos: um deles é o medo, receio de perder ou de se expor aos ataques surpresas. E assim vai a mente divagando além do interesse maior, contudo tem um consciente que a traz para o foco do jogo, e mesmo assim o medo está lá como uma sombra. Talvez criado pela nossa história e experiência, quem sabe do respeito ao oponente, o certo é que este sistema de alta defesa, o medo, está ali do lado. E como se vence o medo? Note que, quando você está na escola, você tem medo dos exames daquelas matérias que você não estudou, e no xadrez existem situações que o deixam desconfortável por serem novas ou trazerem um momento ainda não experimentado, tudo envolto de outros parâmetros íntimos do jogador. Para resolver só obtendo conhecimento.

Como a gente está falando de torneio feminino. Lembrei-me da primeira mulher Ministra da Economia Zélia Cardoso, e como o eleitorado brasileiro adora um salvador, ela veio conduzida por um “salvador da pátria” Collor de Melo. Então, nos dias anteriores ao dia 16 de março de 1990, eu estava cheio de dúvida, havia um grande risco do dinheiro das aplicações serem confiscados, na época, tinha recebido uma indenização e esta soma de dinheiro estava aplicada no Banco. E corria um boato que o governo iria apresentar um pacote econômico, em seu primeiro dia de mandato ou talvez para a semana, visto que era uma sexta-feira. E que este pacote de medidas afetaria as aplicações, mas possivelmente não se atreveriam mexer na poupança. Fui cheio de dúvida falar com o gerente do banco, ninguém sabia o que ia acontecer. Então, eu tinha três opções: deixar o dinheiro aplicado, era muito bom aplicar no overnight, bota e tira; quitar antecipadamente os carnês com as parcelas de pagamento do meu apartamento ou aplicar na poupança. Vou ficar sem dinheiro, pensei. E o medo e um pouco de ambição me fizeram optar pela poupança, porque as prestações do apartamento já estavam negociadas, preferi ficar com o dinheiro para dar entrada em outro apartamento, ou, em curto prazo trocar o carro. Quando ouvi o anuncio das medidas econômicas, proferidos pela Ministra da Economia Zélia Cardoso, fiquei arrasado, salário congelado, poupança confiscada acima de NCz$50 mil (Cruzado Novo) e o dinheiro preso no bando, disseram que seria uma retenção de 18 meses. Coisa para enganar o povo. Não dormi direito, no meio da noite resolvi dá uma volta no quarteirão. Mas, o dinheiro retido na poupança ficou anos para ser liberado, cheio de regras, assim como outras aplicações. No entrando outras aplicações foram liberadas gradativamente, logicamente, com o ônus dos rendimentos que foram subtraídos em parte pelo plano. Naqueles dias tivemos momentos de medo e dúvida, e esta tomada de decisão foi similar ao que vivenciamos dentro de um jogo de xadrez. As opções são muitas e algumas vezes não encontramos o que o oponente nos preparou, sabemos que está lá, que existe, e vem a dúvida, o medo de se expor. E no intimo de buscar um jogo mais seguro, sem se arriscar, acabamos fazendo lances comedidos, até passivos. Dando ao oponente um poder que vai aumentando com o passar do tempo até o desfecho indesejado.
Na partida entre GM Alexandra e GM Mariya, a condutora do time branco cometeu o primeiro erro no lance de número 20, entretanto a condutora do time preto não cometeu um erro direto, mas uma sequência de lances fracos, dubius, que foram cedendo espaço para o branco. Até que o erro do branco foi apagado e o time preto entrou numa posição inferior, que redundou no abandono diante de sua posição precária.


Observação
-   Sobre a pontuação dos lances temos por unidade o “peão”. E quanto o sinal do número: se for positivo significa vantagem do time branco e se for negativo vantagem do time preto. Por exemplo: +0.50, significa que o branco tem vantagem de meio peão nesta posição.

- Esta análise foi feita por mim no ambiente do "chess.com" ao qual sou filiado. Espero que tenham curtido a partida. E caso queiram jogar pela internet, temos o site "chess.com", é muito, muito divertido.

- A anotação das Peças= inglês/português:  Torre=R/T; Cavalo=N/C; Bispo=B/B; Dama=Q/D; Rei=K/R; Peão=P/P; 

Referência


Autor: Paulo Sérgio e Silva
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