Xadrez – Viagens e a disputa do título mundial de xadrez em 1987
Neste tempo de quarentena.
Praticamente uma reclusão domiciliar forçada, contudo ficamos ouvindo opiniões
diversas, onde uns optam por defender a vida e outros por defender apenas a
economia. Os noticiários cheios de números ruins e as “LIVES” dos artistas a fim de levantar fundos para os necessitados
deste desastre mundial, chamada de COVID-19. Deixando estas coisas de lado, temos
um pouco mais de tempo para rever e revirar os livros antigos, tirar a poeira
das estantes. Pois, muitos destes livros destas estantes são consultados
verdadeiramente em momentos melancólicos, porque não dizer nostálgicos. Mesmo
não tendo este lado poético agora, esta é uma ótima opção para preencher nossa
sede de aprender e reviver momentos históricos. Não esquecendo que com as
adversidades presentes temos que manter o astral em alta.
Então, deparei-me com o livro Informator, Chess Informant Fide 1987,
este belo livro traz as paridas realizadas no citado ano. E lá pela página 274
por acaso encontrei duas partidas disputados por Kasparov e Karpov, realizadas
em Sevilha-ESP. Match pela disputa do título mundial. Em 1987, não era fácil acompanhar os
eventos enxadrísticos, aqui no Brasil, mesmo sendo uma disputa pelo campeonatomundial da FIDE. Estava eu torcendo pela manutenção do título por Kasparov, e
isto aconteceu de forma emocionante.
Existiam outras coisas acontecendo
além da disputa pelo título maior do xadrez mundial no ano de 1987, que também
chamaram minha atenção. Só para lembrar, no Brasil foi constituída uma
Assembleia Constituinte; o presidente Sarney com seu congelamento de salários e
depois os gatilhos; Piquet tricampeão mundial de F-1 e a Seleção de Basquete do
Brasil ganhou o PAN. E eu embarcando, desta vez estava indo para o mar e
levando meu jogo de xadrez na mala. Era uma aventura, belas vistas e riscos
eminentes, no meio do mar uma cidade de metal e concreto funcionando todo o
dia, o dia todo. E a comunicação com o exterior era péssima, ainda hoje é, mais
naquele tempo era muito mais difícil. Nos meus campeonatos por correspondência,
eu deixava as cartas preparadas, abertas e seladas com um texto faltando só o
lance de resposta, para minha esposa preencher e enviar quando recebesse minha
indicação. Quando eu conseguia ligar para casa, além das conversas corriqueiras
minha esposa me informava os dados das cartas recebidas no período, caso este
lance estivesse igual ao que eu esperava, ela apenas fechava a carta e enviava,
e se o lance não fosse o esperado eu anotava e respondia depois. Quando necessário, depois
do telefonema corria para o tabuleiro e minhas anotações, e varias vezes tarde da
noite eu conseguia uma chamada, para responder o lance pendente. Como o tempo
para responder os lances era acumulativo, em média dois dias por lance. Quando
não estava viajando eu tentava fazer o maior número de lances neste período,
para acumular tempo, pois para cada 10 lances deveriam ser usados 20 (vinte)
dias acumulados nas respostas, contudo não importava se você gastasse tantos dias
neste, ou naquele lance, o importante era o acumulado. Desta forma, no período
de viagem, eu podia desfrutar de uma maior flexibilidade para compensar a
precariedade da comunicação com a nossa residência. Tinha plataforma com um
telefone para mais de centro e cinquenta embarcados. Imagine a fila. Pelo menos, nas plataformas centrais tínhamos jornais e revistas, e de vez enquanto eu
encontrava alguma noticia de xadrez nas folhas esportivas. E entre idas e
vindas, eu trabalhava e ia jogando o meu xadrez e acompanhando o desenrolar do match pelo
campeonato mundial.
Para esclarecer um pouco sobre esta
questão de tempo de resposta. Vou tentar neste curto parágrafo descrever o cálculo
para determinar o tempo gasto para responder a um lance recebido no jogo por correspondência,
então: tomando-se a DATA DO CARIMBO DA MINHA CARTA RESPOSTA menos a DATA DO CARIMBO
DA CARTA RECEBIDA com o lance do meu oponente, assim tenho o tempo total entre envio e resposta, agora descontamos o TEMPO MÉDIO de
trânsito dos correios das cartas entre a cidade do meu oponente e a minha, então temos o citado tempo de resposta.
Depois de entender esse cálculo, vamos divertir com a nossa partida ilustrativa, esta foi a partida 24 de um total de 24 partidas, por certo a última partida do match de 1987, entre Garry Kasparov e Anatoly Karpov. O campeão Kasparov tinha que ganhar para manter o título.
Outras vezes eu viajava para uma cidadezinha, quando ficava num hotel, então a comunicação era mais fácil, assim todo dia era possível tocar melhor os meus jogos por correspondência e sabre o que estava acontecendo no mundo. Muito diferente da vida de confinado numa plataforma com poucos espaços, muita pressão, pouco lazer, muita responsabilidade, sujeito a um alarme repentino, o jeito era extravasar em comida e em conversa com os amigos, principalmente, naquela época. Hoje as instalações se modernizaram, transporte, segurança e as leis melhoraram o ambiente como o todo, entretanto ainda assim é uma vida difícil de encarar.
Observação
- Sobre a pontuação dos lances
temos por unidade o “peão”. E quanto o sinal do número: se for positivo
significa vantagem do time branco e se for negativo vantagem do time preto. Por
exemplo: +0.50, significa que o branco tem vantagem de meio peão nesta posição.
- Esta análise foi feita por mim no ambiente do
"chess.com" o qual sou filiado. Espero que tenham
curtido a partida. E caso queiram jogar pela internet, temos o site "chess.com", é muito, muito divertido.
- A
anotação das Peças= inglês/português: Torre=R/T; Cavalo=N/C;
Bispo=B/B; Dama=Q/D; Rei=K/R; Peão=P/P;
Referência
Acesso aos dados
do match.
Autor:
Paulo Sérgio e Silva
\PSS
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