Xadrez – Estudando, Jogando e Ensinando em 1976.

Nestes dias de confinamento estou um pouco sem inspiração, vejam que até meu jogo de xadrez está meio bambo, contudo vou mostrar uma partida que joguei no site “chess.com”, bem recente, que terminou no final deste mês de março de 2020. Percebi que Anderson, o oponente da partida em referência, melhorou bastante com relação ao nosso match anterior. Desta forma, isso me fez recordar dos meus tempos de Escola, quando ensinava xadrez aos que me procuravam, geralmente eram os novos moradores do Bairro, em particular eram os novos vizinhos. Em especial tive uma aluna, que fez um aprendizado intensivo de xadrez.


Foram nos anos setenta, em torno do ano 1976. Estava eu tocando minha vida na Escola Técnica. Quando um dia cheguei a minha casa, estava uma menina sentada conversando com os manos. Cumprimentei rapidamente e fui deixar os livros lá dentro. E voltei para saber do que se tratava, era a irmã de uma amiga, que tinha sido nossa visinha. Quando ela ficou sabendo que eu jogava xadrez, veio a minha procura, pois estava precisando aprender a jogar o quanto antes. Visto que na Escola dela teria um torneio de xadrez, e em sua turma nenhuma das meninas sabia jogar, assim a sua turma só teria representante masculino. E todas as outras turmas contavam com os representantes masculinos e femininos. Que missão!

Era início de junho e os jogos internos seriam em setembro, compondo as comemorações da semana da Pátria. Então, depois deste relato nos apresentamos melhor, ela detalhou um pouco de seus objetivos, e perguntou se eu estaria disposto a ajudá-la. Claro! E armamos o xadrez, que ela trouxe, peguei até um livro. Sentamos num canto na área da casa, expliquei os movimentos e descrevi cada peça, valor, importância etc. Ensaiamos os primeiros movimentos de um jogo, então fui mostrar o meu livro número um: “Xadrez Básico” do Dr. Orfeu D’Agostini. Notei que a jovem aprendia rápido, assim ficamos por quase duas horas. Um carro parou, eram os pais dela que estavam ali para pegá-la.  No outro dia lá estava a loirinha de olhos claros com o tabuleiro armado no chão da área da antessala de minha casa. A jovem aprendia rápido, e comecei a chamava alguns dos meninos da rua, ou mesmo um dos manos, para jogar contra ela. Eu seguia explicando as possíveis falhas, os oponentes não gostavam muito, contudo antes eu explicava que o jogo era uma aula. Depois poderiam brincar jogando xadrez. Um dia, fomos até a casa de um amigo, para ela vê um relógio de xadrez. Pois, ela poderia usar o relógio no torneio, caso sua partida demorasse muito. Era estranho este regulamento, mas como na Escola não havia relógio para todos. Foi usada a seguinte estratégia. Definiu-se um limite total de tempo de uma partida em uma hora sem tempo extra. Quando completava o tempo de uma hora, o Diretor do torneio via as partidas que estavam faltando, e ajustava o relógio em cinco minutos para cada jogador, knockout. Caso o número de partidas restantes fosse maior do que o de relógios, haveria sorteio. E assim por diante, até todas as partidas acabarem. Caso suas partidas fossem rápidas, possivelmente, ela nem precisaria usar o relógio, mas por via das dúvidas. Foram apresentados a ela alguns detalhes de um relógio de xadrez, conforme a regra. Através dela fiquei sabendo que ela tinha um namorado, que não concordava deste negócio da menina dele jogar xadrez. E chegou setembro, e pouco antes do torneio ela me ligou para perguntar algo, não lembro bem. O certo é que ficamos alguns dias sem notícias da jovem enxadrista.

Já era noite, quando cheguei da Escola, naquele tempo também treinava atletismo. Tinha que dá conta de uma bolsa de trabalho, como bolsista tinha algumas metas a cumprir. Tudo parecia normal, estava estudando, quando alguém chegou. Era ela, que veio com os pais para agradecer, tinha sido campeã do torneio. Fiquei muito feliz por ela ter conseguido seus objetivos, que legal. Depois de tudo, fiquei pensando qual seria o nível das oponentes, para serem superadas por uma menina que há noventa dias ainda estava aprendendo a mover as peças. Também, existiram muita dedicação e força dela, resumindo, tudo dependeu do esforço dela. Passaram-se alguns meses, e durante esse tempo, alguém disse algumas vezes: aquela menina esteve aqui e jogou umas partidas e foi embora.

O jogo apresentado não é daquela época, mas as imperfeições do jogo me fez recordar os velhos tempos de aprendizagem e ensinamentos do nosso embrionário xadrez de rua. O lance 27 foi decisivo. Vejam os comentários que fiz.


Espero que tenham se divertido com a partida acima. Só para complementar a história. Como no xadrez a vida apresenta algumas surpresas, que nunca mais se repetiram. Um dia no final da tarde, estava jogando com o pessoal da Rua, então ela veio jogar com a gente. Era um final de semana, uma daquelas tardes de sábado, e o jogo não parava, pois o perdedor saia. Como se diz, dava a vez. Depois de algum tempo ficamos conversando um pouco, e ela timidamente me contou que estava grávida. Fiquei surpreso! Perguntei: – e você queria? Ela respondeu: – não, ele é que queria. Por um tempo ficamos vendo os meninos jogando xadrez, sem falar nada. – O que dizer? Então, um carro parou, era o namorado que abriu a porta. E ela se foi. Chamava-se Valéria, que desapareceu de nosso convívio. Nunca mais apareceu para jogar xadrez na Rua Costa Sousa no Bairro do Benfica, Fortaleza-CE.

Observação

-   Sobre a pontuação dos lances temos por unidade o “peão”. E quanto o sinal do número: se for positivo significa vantagem do time branco e se for negativo vantagem do time preto. Por exemplo: +0.50, significa que o branco tem vantagem de meio peão nesta posição.

- Esta análise foi feita por mim no ambiente do "chess.com" o qual sou filiado. Espero que tenham curtido a partida. E caso queiram jogar pela internet, temos o site "chess.com", é muito, muito divertido.

- A anotação das Peças= inglês/português:  Torre=R/T; Cavalo=N/C; Bispo=B/B; Dama=Q/D; Rei=K/R; Peão=P/P;

A foto deste artigo é uma composição entre meu desenho da garota (título: Marina, fev/2019, aula de desenho) e recortes de imagens públicas da internet.  

Referência

Site base do diagrama: chess.com.

Bibliografia

- D’Agostini, Dr. Orfeu Gilberto; XADREZ BÁSICO; Edições de Ouro; Editora Tecnoprint S.A.; Rio de Janeiro-RJ, Brasil, 1973.


Autor: Paulo Sérgio e Silva

\PSS

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