Xadrez na antiga Canoa Quebrada e neste mês o torneio Chessable Masters jul2020

Neste período de pandemia têm ocorrido vários eventos enxadrísticos através da internet, um dos quais o torneio Chessable Masters, realizado no período de 20/junho a 05/julho. Este evento em especial, eu acompanhei em tempo real pelo youtube, e por matérias no site “chess.com”. Enfatizamos que se fizeram presentes os melhores jogadores da atualidade, que se enfrentaram numa melhor de quatro (duas partidas por dia) em partidas com tempo de 15 min (aplicado a todos os lances) por jogador e incremento de 10 s por cada lance realizado. Tivemos momentos emocionantes, muito bem narrados e comentados por um quadro de profissionais também de alta competência, formado pelos: Grande Mestre (GM) Yasser Seirawan, GM Peter Svidler e a Mestre Internacional (MI) Anna Rudolf. As partidas foram bem parelhas, contudo a técnica do Campeão Mundial se fez prevalecer, o GM Magnus Carlsen, que ficou o título do torneio depois de vencer na final o GM Anishi Giri.


Falando em jogos parelhos, onde minúsculas vantagens são transformadas em vitórias, lembrei-me de uma série de partidas, um verdadeiro “match”, jogada amistosamente na Praia de Canoa Quebrada-CE, bem causal. No tempo de escola teve um período, que eu viajava com uma turma de amigos. Estas viagens na maioria das vezes eram para Canoa Quebrada, uma vila de pescadores naquela época.

Noutra oportunidade vou contar como nossa turma ficou unida e formamos uma chapa para ganhar as eleições do Grêmio da Escola.

E nestas viagens até Canoa, íamos de ônibus até uma entrada, pois esta praia fica além da cidade de Aracati, e depois a gente seguia caminhando rumo à vila de pescadores. Esta vila hoje se tornou um polo turístico do Ceará, localizado no município de Aracati no estremo Leste do Estado do Ceará. E em meados dos anos setenta era apenas uma promessa, uma bela praia rústica, ainda preservada dos males da cidade grande. Um verdadeiro refúgio. Contudo, depois de várias viagens ficamos conhecendo alguns nativos, gente simples, e algumas pessoas que trocaram a cidade grande pela vida simples da vila. Como não havia hotel nem pousada no povoado a gente alugava uma casa, ou, nos hospedávamos numa residência de uma família local. Dependendo da negociação a estada seria paga no dinheiro ou com mantimentos.

Numa das últimas viagens, quando a gente estava numa das barracas de praia (acho que foi uma das últimas viagens que fiz para lá naquela época), por lá apareceu um forasteiro com um tabuleiro de xadrez. Montou o jogo numa mesa próxima e ficou folheando um pequeno livro. Nitidamente não parecia com a etnia local, tinha um tipo europeu. O rapaz que nos servia informou que achava que hoje não ia ter jogo de xadrez com o “gringo”. Pois, tinha uma turma boa que foi embora ontem à noite, e até agora ninguém se interessou por esse complicado jogo. Não me ofereci por estar bebendo cerveja e estar com a atenção voltada para os amigos. Então, passado algum tempo, o forasteiro educadamente, sem alteração de voz, perguntou aos presentes se não havia alguém disposto a jogar com ele. Estava pessoalmente interessado, mas fiquei quieto, na minha. Esperei que alguém aparecesse. Como não apareceu ninguém resolvi me apresentar e jogar umas partidas. Fizemos uma rápida apresentação, e num português duro de entender (ainda bem que a gente acostuma e começa a entender), acho que ele disse que era meio finlandês e meio sueco, e que tinha tirado as férias para sair do stress da civilização, estava ali só com a esposa e logo voltaria para a rotina do velho mundo. Perguntou se eu me importava em usar o relógio, afirmei que não, até preferia. Firmamos jogos de cinco minutos para cada, tipo “knockout”, isto é, perde aquele que completar os cinco minutos pensados. Depois disso, sorteamos as cores e começamos o match. O novo amigo de tabuleiro estava bem à vontade, e a sequência dos jogos foi mais ou menos assim: o velho “John” (vamos chama-lo assim o tempo apagou esse detalha) venceu as primeiras duas partidas de cara.

Eu pensei: – Bom dar uma “manerada” na bebida. Vai fazer feio.

Bastou começar as partidas, logo apareceram os “perus”, que são pessoas que ficam ao redor, comentando alto, dando palpite, olhando tudo.  Embora tenha conseguido vantagem no início das duas partidas iniciais, onde eu cometi falhas incríveis e entreguei o jogo no final, segui equilibrando o jogo. Olha que na Escola eu jogava e treinava quase diariamente. Contudo, o oponente demonstrou conhecimento das linhas de jogo e teoria, e na fase do meio jogo era forte, muito firme. Até que consegui vencer uma, e a seguinte foi empate. Depois disso, as partidas ficaram mais acirradas, entramos numa fase de perde e ganha, e finalmente equilibrei o match. Estava muito divertido, mas a nossa hora de ir embora estava chegando, e também apareceram alguns outros que queriam a vez no jogo. Então, o forasteiro John insistiu e aceitei jogar a partida para desempatar. Agora seria uma partida única de três minutos para cada. Não havia muito tempo para pensar. Até lembro os amigos dizendo que eu podia ficar tranquilo, que eles esperariam. Mas, não adiantou, o velho amigo John ganhou a final, e gentilmente cedi o meu lugar para o seguinte. Nunca fui bom no xadrez rápido. Foi uma experiência legal! Quem perde sai, e como dizem: “a fila anda”.

Alguns anos depois voltei ao povoado de Canoa Quebrada e a encontrei toda modernizada cheia de bares, lojas, pousadas e muita gente. E o acesso dos carros ficou bem próximo, antes tínhamos que caminhar uns três quilômetros, ou mais, ou ficar esperando na beira da pista, para alugar um frete num veículo com tração nas quatro rodas, para nos deixar no povoado. Encontrei uma barraca estilizada com tabuleiros de xadrez e tudo. Lembrei-me dos velhos tempos. Entretanto, agora esta tudo muito diferente dos dias da inocente aldeia de pescadores.


Guardada as devidas proporções o nosso match foi tão emocionante, quanto à caminhada do Campeão Mundial Magnus Carlsen para vencer o Chessable Master. Voltando ao ano 2020, escolhemos a primeira partida do match final contra o GM Anishi Giri, final esta disputada numa melhor de quatro jogos. Elucidamos que estas quatro partidas terminaram da seguinte forma: Magnus Carlsen venceu a primeira e empataram as três restantes, assim o placar foi: Carlsen 2,5 e Giri 1,5.

Observação

-   Sobre a pontuação dos lances temos por unidade o “peão”. E quanto o sinal do número: se for positivo significa vantagem do time branco e se for negativo vantagem do time preto. Por exemplo: +0.50, significa que o branco tem vantagem de meio peão nesta posição.

 

- Esta análise foi feita por mim no ambiente do "chess.com" o qual sou filiado. Espero que tenham curtido a partida. E caso queiram jogar pela internet, temos o site "chess.com", é muito, muito divertido.

 

- A anotação das Peças= inglês/português:  Torre=R/T; Cavalo=N/C; Bispo=B/B; Dama=Q/D; Rei=K/R; Peão=P/P; 

 

Referência

Site base do diagrama: chess.com.

Autor: Paulo Sérgio e Silva

\PSS


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