Xadrez – Bela Buenos Aires palco de uma disputa inesquecível
Em minhas viagens uma das
cidades que mais me fascinaram foi a capital da Argentina, Buenos Aires, cidade
de uma cultura muito rica com seus prédios de bela arquitetura, praças
ornamentadas e ruas largas. E os desígnios culinários, churrascos regionais
regados a um bom vinho, aliados as atrações culturais, com espetáculos que
fazem a cabeça dos seus visitantes. Uma variação de temperatura incrível. Um
clima que chega a deixar qualquer cearense intrigado, bem diferente do clima
“alencarino”. Durante os passeios, em boa parte do ano é preciso seguir um tira
e bota de roupas, e assim vai.
A cultura está nas ruas desta
bela cidade, dentro de suas livrarias, museus e teatros. No desenrolar de uma
dança de um casal na calçada, que conta histórias de amores dramáticos, uma dor
infinda e encantadora numa expressão do tango cheio de passos firmes. Em seus
residentes encontramos pessoas lutadoras com traços europeus de comportamento e
etiqueta fina; também, encontramos batalhadores de feições nativas meio
indígena, que se misturam e montam um quadro único de uma sociedade de luta,
bem latina, nervos à flor da pele, e em outro minuto, gentis e sorridentes. Na música e no esporte deste povo estão
presentes as questões de amor e ódio. Como o antagonismo da cara e coroa de uma
moeda, temos nas faces do futebol Boca e River. Sempre aparece alguém para
perguntar, qual sua preferência entre os dois. No âmbito do futebol, observei
que não encontramos argentinos usando a camisa da seleção brasileira, aquela
amarelinha, como vemos no Brasil: brasileiros usando a camisa da seleção
argentina. E quando as amarelinhas estão à venda nas lojas esportivas o símbolo
brasileiro tem alguma falha proposital, enquanto os uniformes a venda de outras
seleções são impecáveis. Coisas da rivalidade. Entretanto, os brasileiros são
bem recebidos, pois economicamente são benéficos para o comercio local, pois
nós contribuímos para melhorar a economia dos “hermanos”, tanto que existe uma
estrutura montada para acolher os visitantes brasileiros.
Fui visitar esta bela cidade
quatro vezes, o bastante para conhecer as artimanhas dos espertos taxistas, que
fazem parte do pacote folclórico da metropole. Na minha última visita. Fui ao
estádio “La Bombonera” era a segunda vez que ia lá, na qual fui com a camisa do
“vozão”, Ceará Sporting Club. Tirei foto e passei algum tempo vendo o campo de
jogo. Na oportunidade alguns jogadores do time do Clube Atlético Boca Juniors
entraram no campo para treinar, eram apenas os reservas, mas mesmo assim
encontramos quatro torcedores batendo um tambor e gritando palavras de
incentivo. – Mas, não tem jogo; pensei para mim mesmo. Quando um dos argentinos
me perguntou sobre minha camisa. – Que escudo é esse?
Eu respondi e perguntei: – é a
camisa do Ceará Sporting Club. Você não conhece o time do Ceará?
E ele respondeu na hora: – Não
conheço. Nunca ouvi falar. E ouvi uma grande gargalhada do meu filho.
Para não ficar por baixo,
respondi: – se não ouviu, um dia vai ouvir. Pois, é um dos melhores times do
Brasil.
E Paulinho falou baixinho: – na
serie “B”. Pedi licença e seguimos com a visita.
Saímos dali e fomos para uma
livraria, e depois fomos a um Clube de Xadrez, as mesas estavam sem peças, só
os tabuleiros, entretanto dava para sentir no ar o encantamento do xadrez. Quando
estava pesquisando sobre um Clube de Xadrez local encontrei um artigo fazendo
alusão à disputa do Título Mundial de Xadrez de 1927 em Buenos Aires, que foi
patrocinada na época pela Federação de Xadrez Argentina. Para não perder a
viagem aproveitei e comprei um livro do GM Gasparov, muito bom o livro em
espanhol, uma lembrança da viagem que guardo até hoje. Depois desta visita
nunca mais tive oportunidade de voltar a esta bela cidade, já são dez anos,
quem sabe um dia eu vou visitar os amigos gaúchos e dou uma chega à Buenos
Aires, que fica ali pertinho.
Coincidentemente, a partida que
escolhi é de 1927 em Buenos Aires, que foi jogada pelos Grandes Mestres (GM)
Capablanca (CUB) e Alekhine
(RUS) pelo título mundial. Conforme o regulamento o match terminaria se um dos
contendores vencesse seis partidas. O match teve 34 partidas, das quais
Capablanca venceu três e Alekhine
venceu seis, assim o GM Alekhine
ficou com o título mundial.
Sobre este match podemos encontrar diversos artigos, visto que os
protagonistas deste encontro enxadrístico são imortais na história do xadrez
mundial. Na época formaram uma grande rivalidade, um antagonismo, que fez deste
match único, em Buenos Aires para nunca mais. Jamais os dois voltaram a
disputar um match pelo titulo mundial. Achei interessante a situação dessa
rivalidade e cito agora, conforme o artigo do GM Rafael Leitão (BRA), em
referência, que foi mais ou menos assim: ambos não queriam mais se enfrentar,
pois o GM Capablanca sabia que o único que podia derrotá-lo seria o GM Alekhine,
e não queria se arriscar a uma segunda derrota, consolidando a superioridade do
rival. E por sua vez, o GM Alekhine sabia que o único que o podia derrotá-lo
seria o GM Capablanca, e não iria se arriscar a perder o título mundial para
este fortíssimo jogador, que conforme a crônica esportiva era favorito no
último match, assim em caso de derrota o rival provaria sua superioridade. O
que Alekhine nunca deixaria acontecer. Desta forma, Alekhine ficou como campeão
de 1927 até 1935, quando perdeu o título para o GM Max Euwe (HOL), vindo a
recuperá-lo em 1937 e manteve o título até sua morte em 1946. O que caracteriza
como o xadrez também chega a ser em alguns casos uma batalha de fórum intimo,
vaidades, que mexe com o psicológico de qualquer personalidade. Divirtam-se!
Observação
- Sobre a pontuação dos lances temos por unidade o “peão”. E
quanto o sinal do número: se for positivo significa vantagem do time branco e
se for negativo vantagem do time preto. Por exemplo: +0.50, significa que o
branco tem vantagem de meio peão nesta posição.
- Esta análise foi feita por mim no ambiente do "chess.com" o qual sou filiado. Espero que tenham curtido a partida. E caso
queiram jogar pela internet, temos o site "chess.com", é muito, muito divertido.
- A anotação das
Peças= inglês/português: Torre=R/T; Cavalo=N/C; Bispo=B/B;
Dama=Q/D; Rei=K/R; Peão=P/P;
Referência
Saiba mais sobre este match:
Biblioteca internacional: en.wikipedia/wiki/World_Chess_Championship_1927
Artigo de Brayan Smith do site
chess.com: chess.com/article/view/clash-of-champions-alekhine-vs-capablanca
Artigo do GM Rafael Leitão: rafaelleitao.com/capablanca-alekhine/
Autor:
Paulo Sérgio e Silva
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