Derrotismo no xadrez

 Esse termo foi empregado inicialmente por Tartakover para referir-se a “abandono desnecessário”. Não são raros os jogos em que o arrependimento bate à porta. Assim, vamos descrever o que leva um individuo a aceitar uma condição de derrota, ou possivelmente, conformar-se com um resultado inferior ao que este poderia ter alcançado, caso tivesse se mantido firme em seus propósitos.

O sentimento de derrotismo aliado a uma análise falha da posição leva o jogador a uma tomada de decisão errônea, entregar os pontos antes de a posição perdedora aparecer. E também, quando o jogador tem uma posição ganha, dependendo apenas de levar o jogo a cabo, mas propõe ou aceita o empate, e pior, quando abandona o jogo decretando a derrota de seu reinado diante de sua própria e ignorada vantagem. Ou talvez, o “derrotismo” não seja a única causa, pois tal atitude pode ser motivada por outros interesses fora do tabuleiro. Fora isso. Este assunto nos faz lembrar o samba de Ivan Lins, grande cantor e compositor brasileiro, que na canção intitulada: “Desesperar Jamais”. Cita o seguinte: “... não tem cabimento, entregar o jogo no primeiro tempo...”. Então, o jogador é emocionalmente movido por um sentimento negativo, que o leva a não enxergar a real condição de sua posição, e acaba declarando a morte de seu monarca sem motivo real, para os demais enxadristas e analistas. Entretanto, para o potencial perdedor o abandono é uma libertação de uma situação de fracasso.



Segundo especialistas este sentimento nasce do inconformismo pessoal, quando a pessoa começa a olhar para o que o outro tem, e ele não encontra na sua situação algo melhor. E vai se “inferiorizando”. Gostei de um artigo que começa assim: “– Que tal olhar mais para o que você tem de positivo, e menos do que os outros têm de positivo?” (referência 1).

Assim vamos descrever como este sentimento começa dentro do enxadrista. No início da rodada de jogos, o enxadrista senta no tabuleiro e observa tudo ao redor. Gentilmente cumprimenta seu oponente, e começa o jogo, também uma “neurose” de grupo surge, que em condições normais está sob controle. Resumindo, o jogo começa e segue lance pós lance. Então, diante dos cálculos de uma posição difícil, e pequenos indícios de uma situação depressiva numa parte do tabuleiro, ou simplesmente aquela minha peça está presa, enquanto do outro lado, tudo termina em combinações harmônicas que parecem estar floreando do nada. E começa a fervura de pensamentos e sentimentos, e com o passar do tempo, as dificuldades fazem o fogo aumentar, e a cada avanço do oponente a coisa vai esquentando. Assim, as bolhas da mente vão se movimentando cada vez mais. E o sofrimento de que o outro tem isso e aquilo melhor do que eu começa a fazer o condutor do jogo a achar que o oponente está bem, muito bem. Reparando no que o outro tem de positivo, e esquecendo-se de estudar o que eu tenho de bom, potencial positivo, peças fortes, que podem ser melhoradas. E este sentimento negativo o conduz a uma análise equivocado do que acontece ao seu redor e resulta numa tomada de decisão falha. Isso pode até nascer do respeito inicial ao oponente pelo que ele fez, ou a instituições que representa. Independente, do início do jogo, você já começa a criar um estereótipo positivo para o oponente, contudo deve-se estar consciente que o xadrez é fundamentalmente um jogo, e que as coisas são resolvidas dentro do tabuleiro.

Todo este sentimento pesado vem da insegurança. Então, para não entrar neste parafuso sem fim, deve-se trabalhar já na preparação para os jogos, além de um bom planejamento deverá manter o espírito otimista. Seu comportamento deve estar livre do personagem que está do outro lado do tabuleiro, seja quem for. Melhor confiar no seu potencial e buscar as linhas de jogo que prefere. Não estou dizendo, que é para deixar de estudar o adversário, caso seja possível, qualquer informação antecipada que tiver o oponente melhor, como: que aberturas ele joga, se é agressivo, etc. Então, os títulos do oponente não vão mover as peças do grande mestre no presente momento. Os feitos dele ficaram no passado. O importante é estar atento ao presente, pois até os campeões falham, e qualquer falha do outro deve ser aproveitada. Se deixar passar a oportunidade. Calma! Respire fundo e mantenha o foco e cuide de seu jogo.

Não mostramos no diagrama abaixo uma derrota, mas um empate com gosto de derrota. Eu, psshqib, de brancas contra Marcel Gerard (Referência 3). – Na partida ilustrativa aceitei o empate achando que estava fazendo um bom negócio, mas depois que terminou o jogo fui vê que poderia ter transformado o empate em vitória, mesmo com a vantagem mínima de um peão. Melhor ter empatado, poderia ter sido pior, se esse sentimento de impotência tomasse corpo. Quem sabe até onde poderia chegar?



Esclarecemos que a neurose, que foi citada no início de texto, faz parte das relações humanas como um todo, não se limitando ao ambiente enxadrístico apenas. Por exemplo uma pessoa sozinha num elevador está desprovida de neurose de grupo, por um instante, assim que outra pessoa entra no elevador, esta se manifesta. Seguem agora observando um no outro: roupa, face, asseio, cheiro etc. E vai fazendo suas conjecturas, e por sua vez o outro também começa a fazer suas impressões. É um universo complexo e muito grande a ser explorado pelos especialistas do assunto.

O tema abordado aqui também se aplica na vida cotidiana, quantas vezes a gente deixa passar uma oportunidade e prova de pequenos insucessos no trabalho. Enquanto, um colega segurou a oportunidade e foi em frente. E a pessoa vai começando a achar que o outro é melhor, e assim vai até se dar por vencido. Concluímos que a base é focar em nossas potencialidades deixando o outro seguir o seu destino. Independente, e equilibradamente seguimos fazendo o nosso. Lembrando-se do samba: “Desesperar jamais aprendemos muitos nestes anos, afinal de contas não tem cabimento entregar o jogo no primeiro tempo...”. É isso, devemos sempre aprender com nossos erros, e nos preparar para viver as vitórias que acontecerão.

 

 

Observação

-   Sobre a pontuação dos lances temos por unidade o “peão”. E quanto o sinal do número: se for positivo significa vantagem do time branco e se for negativo vantagem do time preto. Por exemplo: +0.50, significa que o branco tem vantagem de meio peão nesta posição.

 

- Esta análise foi feita por mim no ambiente do "chess.com" o qual sou filiado. Espero que tenham curtido a partida. E caso queiram jogar pela internet, temos o site "chess.com", é muito, muito divertido.

 

- A anotação das Peças= inglês/português:  Torre=R/T; Cavalo=N/C; Bispo=B/B; Dama=Q/D; Rei=K/R; Peão=P/P.

 

Referência

[1].  https://www.olhovivoca.com.br/colunista/7574/o-que-fazer-para-vencer-sentimentos-derrotistas/

[2]. “Desesperar Jamais” de Ivan Lins e Vitor Martins: https://www.cifraclub.com.br/ivan-lins/desesperar-jamais/

[3]. Site base do diagrama: www.chess.com.

 

Bibliografia

Horton, Byrne J.; Moderno Dicionário de Xadrez; Câmara Brasileira do Livro – São Paulo-SP, 1973, Pág.86

 

Autor: Paulo Sérgio e Silva

\PSS


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