Xadrez – Evolução e polêmica, sobre a duração de uma partida. Como era nos anos 70 e 80?

O mundo está evoluindo, e o jogo de xadrez também vai surfando nesta onda. E entre polêmicas e quedas de braço, vamos assistindo o desenrolar de um assunto, que há muito tempo ronda em torno das leis e regras do xadrez mundial, que é a adequação da cadência de jogo, a fim de acompanhar a tendência do momento atual. Eu era menino e este assunto já era citado, modernização do relógio, redução do tempo de jogo e dos tempos adicionais.

 


Durante a transmissão da Copa do Mundo de Xadrez 2023, direto do Azerbaijão, alguns apresentadores externaram as intenções do Grande Mestre (GM)Magnus Carlsen, por protestar com a não participação no Campeonato Mundial Individual, tem como fundo principal a proposta de diminuir o tempo do jogo clássico oficial. Que atualmente está definido como: o tempo para cada jogador é de 120 minutos para os primeiros 40 lances, seguidos de 60 minutos para os próximos 20 lances e, então, 15 minutos para o restante do jogo com um incremento de 30 segundos por lance começando no lance 61. Segundo o GM Magnus, “é tempo, que não acaba mais. Isso torna o jogo demorado e maçante”.

Entretanto, a entidade máxima do xadrez mundial, FIDE, tem permanecido irredutível. Contudo, temos observado sinais de evolução. Pois, neste ano o Campeonato Tata Steel 2024 apresentou a cadência para o jogo clássico da seguinte forma: para os 40 primeiros lances 100 minutos, para os 20 lances restantes 50 minutos e a partir dai 30 segundos por lance. Observe que já teve uma leve apertada no tempo, de 120 para 100 minutos nos primeiros 40 lances, depois a redução para o adicional do restante de jogo de 75 para 50 minutos, depois disso mais 30 segundo por lance até o final.

Citaram a seguinte proposição. Vamos fazer um exercício de memória como “se fosse” mais ou menos assim: o tempo pensado para cada jogador seria de 60 minutos para os primeiros 40 lances, e 15 minutos para os 20 lances restantes, depois seria adicionado 15 segundos por lance a partir do lance 61. E citaram que: por certo o jogo ficaria mais rápido, teria mais competitividade etc. Também, observaram que o tempo de uma contenda clássica entre GM’s ficaria próxima do tempo de um jogo de futebol. No caso do xadrez, seria viabilizada a possibilidade de ser disputada mais de uma rodada de jogo por dia com mais frequência nos torneios pelo mundo.

Ao longo dos anos, o tempo de jogo vem diminuindo. Aprendi a jogar xadrez no início dos anos 70 com o pessoal da rua, e depois na Escola aprendi as regras dos jogos oficiais. E vendo este movimento todo, e os comentários atuais dos personagens do xadrez mundial, sobre as proposições de modificação na cadência do jogo de hoje para menor tempo. Lembro de minha época de garoto adepto deste jogo fascinante nos anos 70, ainda na Escola. Filiei-me ao Clube de Xadrez de Fortaleza, como não poderia deixar de ser, havia uma grande rivalidade com o Clube de Xadrez do Ceará. E falavam que haveria modificação nas regras do xadrez, pois era muito tempo por jogo e adiamentos frequentes das partidas inacabadas, etc.

Da Escola Técnica fui para a Universidade e continuei a frequentar os torneios oficiais de xadrez. As partidas oficiais duravam horas e o relógio analógico era um caso aparte. Naquele tempo, facilmente, as partidas mais custosas duravam em torno de 7:00 a 8:00 horas. Quase todos torneios no tempo da Guerra Fria seguiam o clássico, raro eram os torneios de rápidas. Não era popular os torneios de partidas ditas rápidas, como ocorre hoje. As partidas rápidas eram sem sua maioria brincadeira, para quem ficava fora da sala dos jogos oficiais. No começo dos anos 80 joguei meu primeiro torneio de blitz, 5 minutos para cada jogador, era uma novidade na época. Foi antes da Semifinal do Campeonato Brasileiro Universitário de Xadrez por equipe realizado em São Luiz (MA) no Hotel Quatro Rodas. Era um torneio início, para que os jogadores se conhecessem e trocassem as primeiras impressões.

No tempo da Escola, as rodadas dos torneio eram longas, imagine antes. Nas partidas oficiais para os 40 primeiros lances eram 150 minutos (2 horas e meia) para cada jogador, e para os próximos lances, a cada 20 lances eram adicionados mais 40 minutos, se não tivesse um tempo de “nokaute” no regulamento a partida acabava descambando para os casos de empate para 50 lances sem xeque, sem movimento de peão, ou coisa assim. As regras do adiamento da partida era constantemente utilizadas, quase sempre havia uma ou duas partidas adiadas para outro dia. Se houvesse rodada no dia seguinte. No outro dia você deveria chegar umas três hora antes; era feita a abertura do envelope, tempos e posições conferidos, e o relógio acionado para continuação da partida. Minha maior partida foi de um pouco mais de 8 horas, somando-se os tempos inicial mais o do adiamento, e foi um empate. Esta foi realizada no Clube do BNB em Fortaleza (CE).

Em meados dos anos 80, o tempo para os primeiros lances caiu, para 120 minutos (2 horas) para os primeiros 40 lances, e 60 minutos para cada 20 lances restantes, isto é, que seria adicionado essa hora no 61o e no 81o e assim por diante. E alguns regulamentos reduziam gradativamente o tempo para os próximos outros 20 lances ou decretavam o tempo total máximo de jogo em 180 minutos para “nokaute” (fim de jogo). E o relógio analógico imperava, enquanto o esperado relógio digital a gente ouvia falar, que vinha por aí. Esta mudança diminuiu o tempo de duração das partidas para em trono de 4:00 a 5:00 horas. A gente pode vê pelo tempo dos vídeos das rodadas transmitidas pelas plataformas da internet, logicamente descontando o tempo de comentário inicial e final dos mesmos. Mas, ainda é muito tempo dizem os especialistas.

Lembro ter ouvido alguém falar que seria o fim do xadrez inteligente, que estavam restringindo a criatividade dos gênios. Pouco tempo para pensar. Dava para sentir a angustia de velhos companheiros de luta, quando este assunto era abordado. Paralelo a isso, o computador de xadrez ainda era para brincadeira, era laser, treinar apenas repetição.

O xadrez não acabou e verdadeiramente os gênios apareceram aos montes. Nada disso se concretizou, os medos ficaram para trás, pois o computador estava chegando com melhores programas, e junto com ele muitas novidades. E mexeram no relógio de xadrez de analógico, este passou a ser digital. A adição do tempo foi ficando mais fácil, mais precisa, e a adição do tempo por lance se popularizou. A possibilidade dos jogos longos demais foi desaparecendo com as novidades, contudo ainda acham que o jogo de xadrez gasta muito tempo. Existe ainda gordura para queimar. Finalizando este parágrafo, observamos que o computador de brinquedo; tornou-se mestre, treinador, ou o oponente da hora.

Vejo este movimento como mais uma onda, que vem arrastada conjuntamente com a modernidade da sociedade e invade o mundo do tabuleiro de xadrez. Parece ser uma reivindicação justa, e que impede ou prejudica a criatividade dos jogadores. Por outro lado, este favorece a produção dos tipos de gênios, justamente, aquele tipo de jogador mais rápido, doutores em encontrar os bons lances em segundos como um raio. Nos torneios de partidas rápidas temos acompanhado belas obras-primas. Fico impressionado como eles conseguem desenvolver partidas engenhosas em tão pouco tempo, contudo são novos tempos. Eu pessoalmente sou lento e fico aplaudindo estes gênios. Podemos esperar que ainda vem coisa por aí. Na verdade quando se trata de xadrez tudo é possível!

Referência

(1) https://www.xadrezforte.com.br/campeonato-mundial-de-xadrez-2023-tudo-o-que-voce-precisa-saber/



Autor: Paulo Sérgio e Silva

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