Zoeira machuca ou não importa?
Difícil encontrar alguém que nunca tenha presenciado aquelas brincadeiras entre torcedores de times de futebol, então esta é a dita zoeira. E quando os times são rivais, estas “pilérias” podem terminar em brigas ferrenhas. Olhe que isto é de um esporte de massa, que atrai grandes multidões, gente de todo tipo, vai a turma da escola, vão famílias inteiras e vai até o grupo de amigos do bar da esquina. E na hora do goal do nosso time, todos gritam e se esgoelam, xingam, pulam e se abraçam. No ambiente de jogo falam alto e ficam passando de um lado para o outro, estes não param nem para o momento do hino Nacional. E quando o jogo termina a resenha sobre a partida faz parte das conversas da semana. O meu time é melhor, o jogador tal não jogou nada, o treinador errou, esse papo pós-jogo norteia toda as interações entre os fãs de futebol, quem está por perto. Algumas vezes comentam sobre a personalidade desse ou daquele indivíduo, mas isso era raro.
Antes isso não tinha nome, mas hoje o pessoal denominou isso de “zoeira”. Entre torcedores, isso não prejudica o time, mas quando torcedores encontram os jogadores, esta parece ser uma zoeira destrutiva. Agora com as redes sociais, os jogadores têm suas plataformas de mídia sociais invadidas. Tanto pode para elogiar como para reclamar. Elogiar, tudo bem! Mas, quando partem para as cobranças infundadas, estes batem com as palavras na consciência dos jogadores. Ou, ficam perseguindo com vaias no momento em que este jogador-alvo pega na bola. Nestes casos, isso vai se tornando destruidor para com o jogador. É preciso muito apoio psicológico para superar este assédio.
Por outro lado, no jogo de xadrez ser polido e educado é como se fosse um lance, é como se este comportamento fizesse parte do jogo. O silêncio no ambiente de jogo é fundamental. Aqui, aquela torcida escancarada fica fora das quatro paredes da sala de jogos. Contudo, no ambiente de jogo, ou mesmo numa live pela internet, não deve existir a dita “zoeira” aos participantes. Coisa muito presente no futebol e em outros esportes de massa. Lógico que no xadrez de bar, ou mesmo, de rua, até surgem as zoeiras entre os contendores e as pessoas, que ficam “peruando” em torno do tabuleiro. Realidade, fora do ambiente oficial de jogo. Mas, não é aquela galhofa de ferir a garganta com gritos e insultos.
Para começar no tabuleiro temos dois oponentes, tornando a coisa bem próxima do pessoal. E no ambiente enxadrista, seja ele presencial ou ao vivo, as devidas proporções de respeito devem ser respeitadas. Então, não existe a possibilidade de ficarem vaiando um jogador assim que chega a sua vez de jogar. Como ocorre no futebol, quando um certo jogador pega na bola, e a torcida reprova seu futebol, fica vaiando e dizendo nome com o infeliz. Isso não melhora o jogo de ninguém. Pessoalmente acho que não é torcer, mas existe gente insana que fica fazendo essas insanidades pelos campos de futebol. Talvez caiba este tipo de comportamento no ambiente de um estádio, mas no ambiente onde se joga xadrez, isso é um pecado. Bem difícil de ocorrer. Num esporte de poucos atores, com seu jeito complexo e simples de existir, isso não tem como. Por ser um ambiente restrito, e a luta e energia voltadas para a posição do tabuleiro. Mesmo, num xadrez jogado num bar as vitórias são mais reservadas do que num estádio. Mesmo, tendo as brincadeiras explicitadas diante de um triunfo. Vimos na semana passada uma jogadora russa, tentar envenenar sua compatriota durante um campeonato de xadrez (assunto de um artigo anterior), justamente por terem trocados insultos dias antes. Por ser raro, ela será banida do esporte.
Durante as transmissões de jogos de xadrez narrados por brasileiros pela internet. Encontramos no chat (linha de bate-papo) manifestações falando deste ou daquele jogador, mesmo dizendo que é “zoeira”. Ficam falando da vida pessoal do jogador com brincadeiras e palavras que ferem a dignidade humana. Mexendo com assuntos pessoais do jogador, caso estes cheguem ao conhecimento do alvo em questão, estas palavras machucam. E ficam falando “abobrinha”, esquecem que o jogador é gente, pessoa, tem uma dignidade. E quando alguém reclama, estes se escondem atrás da desculpa: - isto é apenas “zoeira”, gente! Cabe ao condutor do chat, streamer (profissional que transmite conteúdo ao vivo), a responsabilidade em coibir esta prática que não favorece o esporte. Penso que no xadrez não existe espaço para este tipo de comportamento.
Quando estava assistindo a um jogo de xadrez, vi no chat alguém comentando sobre a burrice do jogador; outro comentando sobre o namoro e os apelidos da pessoa; outro dizendo que ele perdeu para fulano de baixíssima classificação etc. Observamos que estas afirmações chegam a ser de níveis pessoais, algo direcionado para aquele jogador. Quase não falavam de outros personagens que estava no torneio, praticamente, o fulano era o Cristo da vez. Foi assim, até me irritar e fazer alguns comentários de protesto, e sai da live. Vou vê outra coisa, dormir ou coisa assim.
Podemos dizer, que no xadrez não pode haver brincadeira? Logicamente, que pode, como no caso do jogador Grande Mestre Internacional Giri, que alguns fazem referência ao jogador que empata todas as partidas. Quando surge uma situação de empate, logo o GM Giri é lembrado. Mas, ficam nestes termos, e outros são lembrados por serem rápidos nos jogos clássicos, e assim vai. Tudo dentro do esperado. Sabemos, que mesmo num ambiente controlado as pirraças ocorrem, reação de orgulho, desdem, preconceito, e outros comportamentos menos sociais. Até desconcentrar o adversário de alguma forma, isso existe, contudo são atos comedidos em comparação a outros esportes. A brincadeira e atos de zoeira, as galhofas não fazem parte do espírito do xadrez, assim como os maus comportamentos citados anteriormente, podemos admitir que estes existem no jogo de rua, e se existe respeito mútuo pode até ser salutar.
Lembrei que ganhava meus campeonatos, e os amigos, oponentes, vinham me cumprimentar. O primeiro era o meu adversário de tabuleiro. A alegria estava entre sorrisos e abraços, nada espalhafatoso. Ficava feliz, e segurava a euforia, aquele grito, liberava apenas o riso de satisfação diante dos cumprimentos e tratava o próximo com o máximo de respeito, mas quando chegava em casa, era hora de vibrar. Lembro que uma vez cheguei em casa, eram pouco mais de duas horas da madrugada, todo mundo dormindo, ninguém para eu falar, corri para o banheiro. Quando fechei a porta não me contive, gritei e pulei. Quando ouvi, o pessoa de casa estava batendo na porta do banheiro querendo saber o que estava acontecendo. Quase apanhei, mamãe perguntava o que foi que houve, e papai querendo puxar minhas orelhas por causa de tanto barulho. Meus irmãos assustados com os olhos arregalados. Quando contei o ocorrido, papai gritou. Vai tomar banho, amanhã damos os parabéns, e bateu a porta.
Dito isto. “Não importa como as pessoas são, ou aparentam ser, elas são apenas pessoas”, ouvi isso num documentário sobre preconceito. Isto se aplica ao que pode está por trás da chamada “zoeira” sem o devido limite. Se for brincar com alguém, guardar o respeito é muito importante. Vamos jogar nosso xadrez, vamos até peruar ao redor de um tabuleiro ou no chat, contudo respeitando ao máximo o parceiro, amigo e oponente. Isso é verdadeiramente fundamental!
Observação
- Zoeira é um substantivo feminino, que significa o mesmo que zoada.
- Jogo xadrez no site "http://chess.com", é muito, muito divertido.
Autor: Paulo Sérgio e Silva
\PSS
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