Xadrez – Permitir voltar o lance. E pode?
Permitir voltar o lance. Este tema é muito interessante. Pois, imagine se toda vez na vida, que você cometer uma falha, e alguém aceitasse você apagar o malfeito e refazer, como algo pensado, melhor elaborado, como se nada tivesse sido feito. Assim, seria muito bom! Entretanto, na vida real não é assim. E na lei do xadrez, também não existe esta facilidade, pegou na peça, soltou e o tempo passou. Paciência, as consequências deste deslize virão com certeza. Existe um provérbio tibetano, que diz: — “há três coisas que jamais voltam: a flecha lançada, a palavra dita e a oportunidade perdida”. Então, é assim para grande maioria de nossos atos, inclusive o movimento no xadrez.
Refletindo um pouco sobre o citado provérbio. Temos que prestar muita atenção no que jogamos nos outros. Não digo uma “flecha lançada”, mas pode ser uma pedra; ou sendo mais violento, um tiro. Abrindo um espaço para os pacifistas; por este motivo sou contra as armas, na hora de uma raiva o sujeito lança mão deste instrumento que faz um mal, e uma vez usado não tem volta. Precisamos cultivar a paz, sempre.
E a “palavra dita”, é outra coisa que fere, como diz o poeta: —“palavras são navalhas, e eu não posso cantar como convém, sem querer ferir ninguém…”. Estava uma vez na sala de aula, e um dos alunos começou a fala de um projeto e citou alguém, e esta modificação tinha deixado a instalação com problema etc. E sem checar, ou, ter ficado calado, fui tomando o relato citado como verdade; sem checar a veracidade do fato. Lembra, como as pessoas fazem hoje com as fake news nas redes sociais. Pois, foi isso. Caí na armadilha de endossar algo sem ver a veracidade, coisa que o pedido de perdão não apaga. Como diz o ditado popular: “a xícara quebrou, e não emenda mais”. E muita gente continua caindo nestas arapucas. Triste situação. Que é tão atual. Os políticos dos dias atuais se apoderaram da rede de comunicação mundial, e fazem seus seguidores formarem uma legião de transmissores de palavras distorcidas; sem culpa ou remorso.
Mas, a última afirmação do provérbio tibetano mexe bastante com a vida de muita gente; a “oportunidade perdida”. Quantas oportunidades boas deixamos pelo caminho: —“então vigiai”, como está citado na Bíblia. O emprego; o show; o amor, aquele lance ganhador; algo bom que se foi e passou, era para ontem e hoje não dá mais. O jeito é se prepara para a próxima oportunidade, porque lamentar o leite derramado não resolve.
A questão é a seguinte: aceitar o pedido, ou não? Outras situações no cotidiano, quando estamos fazendo uma prova de concurso ou de um curso regular. Será que o professor, ou, o fiscal aceitaria?
— Oh! Professor vi que cometi um engano, posso refazer a questão?
Caso aceite, pode ser um desrespeito aos demais concorrentes?
E no mundo do Xadrez? Um dos momentos mais constrangedores para um jogador de xadrez, acontece quando seu adversário pede encarecidamente, para refazer o lance já executado, e voltar a peça movimentada. A gente recebe esta reivindicação e fica pensando: “e se fosse eu? Será que o amigo concordaria com tal pedido?” A resposta a esta questão é inversamente proporcional a importância e aos objetivos do resultado do jogo, então disputado.
Por exemplo: se um jogo de xadrez ocorre à beira mar entre uma cervejinha e outra, ou mesmo durante uma aula sobre o jogo. Não tem problema, a probabilidade de se voltar o lance é muito grande, tendo em vista a baixíssima importância atribuída ao resultado do jogo; todos concordaremos em voltar o lance na hora. Agora, se este jogo faz parte de um campeonato com premiação, ou tem alguma aposta envolvida; a probabilidade da volta de um lance é muito baixa, devido a grande importância atribuída ao resultado do jogo.
E o que diz a regra? Na lei do jogo de xadrez, peça movimentada “não pode ser movida para outra casa neste lance”. Isto é, não tem volta. Vejamos o que diz o item 4.7, e segue com algumas condicionantes até o item 4.7.3.
“4.7 Quando uma peça for solta numa casa, como consequência de um lance legal ou parte de um lance legal, ela não pode ser movida para outra casa neste lance. O movimento é então considerado como realizado:…”
Contudo, alguns jogadores insistem que existe uma flexibilidade, e para não perder devido a uma falha explicita, tentam impor o jeitinho extra para obter alguma sobrevida no jogo.
Pessoalmente, não peço para voltar lance em nenhuma condição. Se o jogo estiver em alguma competição como: luta por premiação, torneio de amigos, ou, simples perdeu saiu etc. Até em respeito a regra do jogo e aos demais competidores. Se voltou para este, então vai voltar para outros. Caso não o faça, não seria justo. Imagine, você deixar voltar a jogada, e alguns lances depois, você comete um deslize, e ai? Também, vai pedir para voltar o lance? Aviso, que também não atenderei esse tipo de solicitação, para evitar coisas assim. Possivelmente, durante uma brincadeira, um treino ou coisa de amigos até pode ter uma volta. Mas, valendo alguma coisa, não é lícito tal procedimento.
Lembro que num torneio entre amigos. Fui jogar contra o jogador que estava na lanterna. Que clima: último lugar, última rodada do evento, e para mim valia classificação. Lembro que ele tinha perdido todas as partidas anteriormente. Logo no começo de nossa partida, ele entregou uma peça. Pensei: — Oba, essa eu não esperava! Então, veio o pedido para refazer o lance. Eu na minha inexperiência, todo bondoso, permiti que o lance fosse refeito. Deste ponto, para frente. O oponente ficou afiado, atento aos lances, e a partida ficou difícil. Foi complicado. E cinco horas depois consegui ganhar a partida. —Ufa! É para aprender. Se não vai por bem, aprende na luta, na garra. Experiência vivida, foi uma grande lição.
Podemos concluir que não tem bondade. Voltar o lance? Jamais! Em respeito ao jogo em si, aos outros adversários, a você mesmo e ao próprio oponente. O jogo deve continuar. Tudo está interligado, se quebrar esta corrente. Vai ter que permitir outras exceções. Como foi dito, na vida real não tem volta e na lei do xadrez, também não. Assim, o nosso provérbio tem mais um item. Que jamais voltam: a flecha lançada, a palavra dita, a oportunidade perdida e o lance de xadrez legalmente executado. E vamos tocando o barco assumindo nossas responsabilidades e consequências de nossos atos, ou seja, de nossos lances.
Referência
- Provérbio tibetano. https://proverbios-populares.com/a-flecha-lancada-a-palavra-pronunciada.html
Autor: Paulo Sérgio e Silva
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